Energia e Sustentabilidade

O Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo, abrigou entre os dias 15 e 17 de setembro a primeira Feira Internacional de Tecnologias Limpas e Renováveis para Geração de Energia (EcoEnergy). O evento, que reuniu fornecedores de produtos e serviços ligados a este mercado, foi realizado pela Cipa Fiera Millano e recebeu centenas de pessoas entre profissionais ligados a empresas do setor e instituições financeiras, escritórios de projetos de engenharia instituições de pesquisa e desenvolvimento e entidades da área de energia.

Durante a cerimônia de abertura da feira, o diretor de Operações da Cipa, José Roberto Sevieri, ressaltou a importância de se organizar eventos com enfoque na sustentabilidade. O executivo também afirmou que, cada vez mais, é preciso criar possibilidades para a conscientização das pessoas sobre o papel e a viabilidade  dos recursos renováveis que podem ser utilizados como fontes de energia.

Nesse sentido, Sevieri projeta que, no decorrer dos próximos anos a EcoEnergy tende a se consolidar como referência no Brasil, se tornando um dos principais fóruns para a discussão de temas relacionados a energia renovável, inclusive colaborando para fomentar o desenvolvimento de negócios no setor.

Um dos pontos altos do encontro foi a realização, no dia 15, do Seminário EcoEnergy, que contou com a presença do secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Anibal, responsável pela primeira palestra do dia, com o tema “Matriz Energética Paulista”.

Durante a apresentação Anibal destacou que, hoje,no mundo inteiro é inevitável trabalhar no desenvolvimento de energias sustentáveis e que o governo de São Paulo não tem medido esforços para tomar a matriz energética do Estado cada vez mais limpa.

“Energia verde, sustentável, é uma grande tendência. Em São Paulo já temos uma matriz de geração que é muito mais limpa que a média mundial e a do próprio Brasil. Em termos numéricos, no mundo apenas 12,9% da matriz energética provem de fontes renováveis. No Brasil, as renováveis representam 45,9%. Em São Paulo já estamos em 54,7%. É a matriz mais limpa do Brasil”, ressaltou o secretário.

Um ponto de preocupação levantado por Anibal foi a área de transportes citada como principal consumidora de energia “suja” ou fóssil. No entanto, ele observa que a situação tende a melhorar com a evolução da Politica Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), aprovada em 2009 e que prevê que em 2020, o Estado terá que emitir menos gases de efeito estufa do que emitiu em 2005. ” Este é o nosso maior desafio (em termos de meio ambiente e sustentabilidade). E o que temos de sujo na nossa matriz energética são os mesmos transportes. Não temos transportes ferroviário desenvolvido, hidroviários e nem dutovias”, afirmou.

Anibal comentou que para mudar este quadro o governo do Estado está favorecendo todos os modais e citou o transportes de açúcar, omo por exemplo do que irá acontecer. ” Em 2010 o Brasil exportou por São Paulo, pelo Porto de Santos, 17 milhões de toneladas  de açúcar. Cerca de 15% foi para o porto de trem, o resto foi de caminhão. Foram 370 caminhões. Mil por dia. Temos duas ferrovias que chegam a Santos. Uma delas, que vai por Parelheiros, zona sul de São Paulo, está sendo suplicada. Quando a obra for terminada, no final de 2012, todo açúcar seguirá de trem e vamos tirar 370 mil caminhões da estrada”, afirma Aníbal.

Outra ação está ligada ao transporte de álcool, hoje também feito através de caminhões. Nesse caso, está sendo construída um dutovia que vai de Ribeirão Preto a Paulínia, seguindo para Taubaté e de lá para Caraguatatuba e Porto de São Sebastião. ” Vamos tirar milhares de caminhões das ruas. Estamos intervindo fortemente na logística de São Paulo para reduzir também a emissão de gases estufa”, declarou Aníbal, acrescentando que o governo também está investindo da hidrovia do Tietê.

Geração Limpa também está nos planos do governo

No campo da geração de energia limpa, José Aníbal lembrou que o Estado de São Paulo já conta com centenas de usinas de álcool e açúcar, que cada vez mais, têm investido na geração de eletricidade através da biomassa, com a queima do bagaço e da palha da cana – em 2010, a produção cegou a cerca de de 2.700MW.

Para auxilar este pessoal, o secretário comentou que o governo do Estado lançou um programa que tira integralmente o ICMS dos equipamentos para modernização de caldeiras antigas, facilitando o investimento usineiro. ”Queremos gerar 1.000MW de energia por ano, até 2020, com o bagaço e com a palha de cana. Esse é nosso principal programa de geração de energia renovável”, declarou o secretário, lembrando que também há ações estaduais em torno das áreas  de geração eólica, solar fotovoltaica e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

O tratamento dos resíduos sólidos também esteve em pauta. Nesse caso, José Aníbal afirmou que  são esperados avanços significativos no processamento do lixo. ”Hoje, no mundo, temos quase mil plantas de processamento de resíduos sólidos. É um processo similar ao da cana, onde se joga o lixo numa caldeira que queima o vapor, que gera a energia (elétrica) ou é utilizado por algumas industrias”, destacou.

Em sua apresentação, Vinicius de Almeida, da Andrade & Canellas, também falou sobre as oportunidades para o aproveitamento energético a partir de resíduos sólidos urbanos. Almeida revelou que, em média, cada habitante produz em torno de um quilo de lixo por dia, sendo que em regiões metropolitanas e grandes centros esta geração é ainda maior, criando problemas sérios para seus administradores públicos. E no Brasil a situação tende a se agravar ainda mais se nada for feito, especialmente em função do aumento da renda da população.

“Alguns estudos mostram que com o aumento da renda, aumenta-se a geração de resíduos. Por isso, a tendência  de nosso país, em desenvolvimento é de aumentar a geração de lixo. O problema é que muito desse lixo ainda é tratado de maneira inadequada”, comentou Almeida, revelando que, em 2010, no Brasil apenas 58% dos resíduos sólidos urbanos tinham destinação adequada (em aterros sanitários).

Para Almeida, a situação tende a melhorar com a Politica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que, entre sues princípios, prega a integração de várias áreas, aspectos sociais, ambientais, saúde pública, etc. Ele explicou que o princípio básico disso está no aproveitamento energético do lixo que s pode fazer pensando em eficiência. Este aproveitamento em países europeus  já é de longa data, mas não do lixo através  do processo de queima no Brasil, apenas aterros sanitários  com geração com a queima do Biogás.

Entre a vantagens desse modelo, Almeida aponta que se trata de uma energia constante, uma que o lixo é gerado diariamente, diferente do bagaço de cana, que é gerado no período de safra. Também não tem o efeito climático envolvido, como na eólica, com períodos com mais ou menos vento.

Quanto aos aspectos positivos, ele cita o aumento da vida útil dos aterros e a redução do impacto ambiental, uma vez que os lixões frequentemente poluem as águas subterrâneas e o solo. Por outro lado, tem a atuação dos catadores de forma nais organizada. Por fim, a redução das emissões, uma vez  que se terá uma situação de queima controlada. ” Todas essas vantagens culminando com o aproveitamento energético. Quer dizer, tem um aspecto positivo também dessa geração distribuída da energia, que traz confiabilidade e segurança ao sistema. Tudo isso é aspecto positivo do aproveitamento energético dos resíduos”, finalizou Almeida.

Hidrelétricas deverão puxar investimentos nos próximos anos

A produção de energia elétrica com utilização de tecnologia hidráulica também esteve em pauta, com apresentação de Benedito Márcio de Castro Oliveira, diretor técnico de Marketing de Power Alstom. O executivo falou sobre os equipamentos a disposição no setor e apresentou alguns dados do mercado brasileiro de energia elétrica, cuja matriz é extremamente limpa-cerca de 68% é hídrica, seguida pela biomassa e eólica.

Para o futuro Oliveira projeta que o País terá uma matriz ainda mais limpa, com avanços na parte eólica, na solar e, principalmente, através de novos investimentos em hidrelétricas. ” O Brasil ainda tem muitas bacias para serem exploradas, como a bacia do Paraná que tem aproximadamente 60GW de capacidade, e as bacias da região Amazonas, com 105GW de capacidade para serem desenvolvidos”, destacou o diretos, lembrando que o Brasil terá de produzir cerca de 6GW anuais nos próximos dez anos para suportar o crescimento econômico do País.

”Continuamos investindo na energia hídrica por que é uma energia que tem sustentabilidade e une crescimento econômico e desenvolvimento social. Porque é uma energia limpa que produz pouco CO2 e por que temos recursos hídricos em abundância. Trata-se de uma matriz segura, e através dela, podemos utilizar também outras fontes renováveis, que são a biomassa e a eólica”, completou.

Na opinião de Oliveira, a grande dificuldade nesse tema é que o Brasil precisa avançar o seu modo de ver a questão dos reservatórios, que hoje são muito criticados. ” Acredito que as análises estão sendo feitas pontualmente. Você pega o projeto e critica o reservatório. Talvez o que devesse ser feito é pegar uma matriz energética e dizer o seguinte:  se eu vou gerar só 10GW hoje, e não 20, como vou suprir os 10 que não estou gerando por que não tenho reservatório? Qual será a fonte de energia que terá de suprir estes 10GW? Quais  os impactos que isso traria para a sociedade nos próximos dez ou trinta anos? Essa questão deveria se mais debatida na sociedade e não simplesmente  colocar o reservatório como vilão”, alertou.

Complementando a programação do seminário, Ignácio Valdeomillos da empresa Carlo Gavazzi, falou sobre a geração eólica a partir de mini aerogeradores conectados a rede elétrica e desconectados, e sobre o monitoramento de plantas fotovoltaicas como foco na eficiência dos módulos inversores, potencial solar e payback.

Marcelo Mesquita, da Abrava, abordou as oportunidade com aquecimento solar. Numa referência as hidrelétricas, em sua apresentação ele citou que, a cada metro quadrado de coletor solar instalado, é possível deixar de inundar 56M² de área.

Mesquita afirmou que já é perceptível o aumento da consciência ambiental das pessoas.  e as vantagens atingem também o bolso. ” Se tiver aquecimento solar, a conta de energia e de gás é certamente 30% menor”, destacou o representante da Abrava, acrescentando que, hoje, mais de 30 cidade espalhadas pelo Brasil contam com legislações que induzem a utilização do aquecimento solar para água.

Por outro lado, programas de habitação popular como o CDHU, em São Paulo e o Minha Casa Minha Vida, do governo federal, colocaram o aquecimento solar como obrigatório. A expectativa é que, com o aumento da escala na utilização, haverá redução nos preço dos produtos.