Instalações Elétricas : É tão difícil certificá-las? Parte 2.

Para que certificar?

O objetivo principal da certificação de uma instalação elétrica é avaliar a qualidade do trabalho executado, visando garantir a instalação adquirida pelo contratante é, de  fato, o que sendo entregue, que a instalação cumpre as nomas de referência e que foram feitos ensaios para verificar os itens de segurança.

Caso sejam detectados problemas durante a inspeção, a Certiel registra a ocorrência e o certificado somente é emitido após terem sido feitas as devidas ações corretivas. Eduardo Daniel esclarece que a Instrução Técnica (IT-41) – que entrou em vigor o ano passado é válida apenas para o estado de São Paulo  – tem os mesmos objetivos que a Certiel: prover segurança para os usuários das instalações elétricas.

” Se o Corpo de Bombeiros pudesse  inspecionar, em todas as situações, ou se o próprio instalador tivesse condições de garantir a qualidade da instalação feita por ele próprio, incluindo laudos, entre outras exigências, teoricamente, a Certiel nem precisaria existir. Porém, ainda não é bem assim que acontece e é por isso que infelizmente, ainda precisamos de terceiras partes para fazer a verificação.

Cenário Internacional

Em muitos países europeus, o conceito de certificação já está bastante difundido, sendo  inclusive compulsório, com a maioria das instalações elétricas executadas em conformidade com as respectivas normas vigentes de cada local.

Um dos países que agregam a Fisuel e que possui um dos sistemas mais antigos de certificação é o Reino Unido. no país, existem milhões de instalações, todas praticamente nova ou reformadas.

A grande maioria das instalações no local já está certificada, mas ainda assim, são encontrados problemas esporadicamente. Quando isso, acontece, e edificação é rapidamente interditada. ” No momento em uma instalação é flagrada  contendo problemas, o corre a interdição, algo que aqui no Brasil não acontece”, compara.

A França é o país que possui o maior número de certificações por conta de sua legislação vigente, que remete também a instalações existentes. Contudo, uma  de suas preocupações é preservar edifícios tombados e monumentos históricos, que não podem sofrer alterações estruturais.

Portugal é outro país que se destaca quando o assunto é certificação de instalações elétricas, ação que é amparada pela Certiel Portugal. Uma iniciativa interessante que está sendo liderada por um grupo de trabalho português dentro da Fisuel consiste em relacionar eficiência energética com segurança com segurança nas instalações.

” Uma instalação segura é sempre eficiente. No entanto, a recíproca nem sempre é verdadeira, por que pode se ter uma instalação eficiente que não seja segura”, afirma Daniel.

Além dos países europeus, a Fisuel agrega diversos países africanos. Eduardo Daniel elogia o sistema de certificação adotada pela Costa do Marfim, em que, segundo ele, ”apesar de se tratar um país pobre e com diversos problemas  as pessoas não morrem por causa de choque elétrico”.

Nos Estados Unidos e no Canadá, a condição técnica é bem caracterizada e regida pelo Nacional Eletctrical Code (NEC) emitido pela National Fire Protection Association (NFPA), uma das publicações mais detalhadas  quanto a requisitos aplicá-los a produtos e seus modos de instalação.

Estes dois países não integram a Fisuel e contam com certificação voluntária. Não existem leis voltadas para esta questão, e a justificativa apontada é o alto nível de conscientização, por parte dos consumidores e, principalmente, do governo, que dispensa medidas compulsórias.

Na América, de maneira geral, apenas o Brasil e a Argentina pertencem a Fisuel, por enquanto, mais países estudam a entrada no Fórum Internacional. ”O Chile deve ser o próximo integrante. Lá, o modelo de certificação utilizado conta com um apoio incondicional das concessionárias de energia, algo que aqui no Brasil, nós não temos”, expõe Daniel.

Panorama das Instalações

Segundo pesquisa realizada pelo Programa Casa Segura, em 2010, 90% de 100 edifícios da cidade de São Paulo estavam isentos de sistema de aterramento. Após um diagnóstico feito pelo Programa, 48% dos síndicos optaram por pequenos reparos ou reforma total da instalação elétrica.

Dos 100 edifícios avaliados, 90% tem mais de dez  anos. Os principais resultados revelaram que:

  • 86% nunca realizaram reforma ou manutenção  significativa na parte elétrica;
  • 35% recorrem ao uso permanente  de benjamins (T’s) e extensões para ligar equipamentos eletrônicos;
  • 90% das instalações elétricas não possuem ”fio terra”;
  • 90% não possuem tomadas de três polos com aterramento;
  • 85% não possuem Dispositivo Diferencial Residual (DR), responsável por desligar um circuito quando fuga de corrente elétrica;
  • 45% das edificações possuem emendas de condutores instaladas fora das caixas apropriadas, além de fios e cabos elétricos instalados de maneira inadequada.

O  diagnóstico visual observa as condições dos principais componentes da instalação elétrica, incluindo a entrada de energia, o centro de medição, quadro geral de distribuição, além de da situação dos condutores elétricos, caixas, interruptores, tomadas, luminárias e demais componentes da instalação.

Infelizmente, grande parcela dos brasileiros ainda não considera  a certificação e a compra de produtos que atendem as normas um benefício, mas sim, um custo desnecessário, conforme explica Edson Martinho. ” Trata-se de uma cultura muito distante do que almejamos como ideal”, expressa.

Em relação a demanda que se apresenta  no mercado, o engenheiro revela que grandes construtoras têm se preocupado em executar as  instalações elétricas corretamente, mas que, muitas empresas de menor porte, ou ainda, autoconstruções, não estão muito conscientes nem mesmo sobre a importância da normalização de produtos. ” Este é um mercado que ainda não conseguimos atingir”, sustenta.

Outro nicho que também não foi conquistado são os usuários finais das instalações, pois , pelo fato de receberem a instalação já finalizada para utilização, permanecem sem conhecer e entender a importância da certificação.

”  A partir do momento em que a instalação elétrica é entregue ao usuário, ele não tem a informação de que está recebendo algo de acordo om as normas, e consequentemente, com vários itens de segurança. Com isso, ele passa a ser o gerenciador de sua própria instalação, e no momento em que é preciso realizar uma pequena manutenção, acaba não contratando profissionais habilitados, mas, sim profissionais, muitas vezes sem conhecimento”, relata Martinho.

Além de São Paulo, outro Estado que manifestou interesse por melhorar a qualidade das instalações foi o de Goiás, quando no início do ano de 2011, o Poder Legislativo recebeu três propostas para regulamentar as instalações residenciais. O material é resultado de estudo elaborado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (ABEE) de Goiás que levantou um panorama da situação das instalações elétricas.

A análise  aponta para a necessidade de lei que regulamente a inspeção das instalações e foi apresentada como resultado de pesquisa na UFG pela engenheira Viviane da Silva Gomes que, em parceria com o engenheiro Paulo Afonso Andrade, foi responsável pela redação das minutas de propostas legislativas apresentadas as Câmaras Estadual e Municipal.

Na pesquisa realizada pela engenheira m 2009  69,7% das residências mão tinham projeto elétrico, 25,7% dos entrevistados em residências já sofreram choque elétrico , 47,6% utilizaram mangueiras como substitutas de eletrodutos e, das industrias pesquisadas, 52,3% dos desarmes dos disjuntores são por sobrecargas.

O levantamento mostrou, ainda, que já houve princípio de incêndio em 8,2% das indústrias pesquisadas e que 30,7% delas não sabem a cor do fio terra utilizado.