Os Prós e os Contras do PVC

Largamente Utilizado na Indústria de fios e cabos, o PVC apresenta riscos a saúde das pessoas e aos equipamentos e pode ser substituído por outros materiais nos próximos anos. Mas há controvérsias. Veja.

Cada vez mais , as ações que defendem a proteção e o zelo com o meio ambiente ganham força em todo mundo. Tendo em vista as catástrofes naturais, as mudanças climáticas, o desgaste dos recursos da natureza, entre outros fatos, não apenas ambientalistas, mas governos, cientistas e autoridades de modo geral preocupam-se com o tema e investem em iniciativas que combatem o desperdício e as agressões ao meio. E assim, inventos, que outrora foram revolucionários, são banidos  por apresentarem ineficiência quanto a utilização de suas matérias-primas e/ou por representarem algum risco ao meio ambiente. A lâmpada incandescente  é um exemplo. Considerada  uma invenção prodigiosa, marcante para todo o mundo, sobreviveu por décadas e décadas como a principal fonte de luz nos ambientes, mas por conta de sua baixa eficiência energética está sendo eliminada legalmente de diversos países, entre eles o Brasil, que deve retirar boa parte dessas lâmpadas de circulação até 2016.

Muitas discussões envolvendo o Policloreto de vinila (PVC) também acontecem no sentido de tornar o seu uso, ao menos, mais controlado. Do grupo dos polímeros, o PVC e entre outros plásticos também foram revolucionários. A partir da década de 1940, as matérias-primas plásticas entraram com força na casa das pessoas, independentemente de condição social. Foi um fenômeno, pois, na época, era o aço que predominava. Atualmente, o PVC ainda continua sendo muito utilizado na indústria elétrica, especialmente na produção de fios e cabos por conta de características importantes como baixo custo, felixibilidade  não propagação de chama.

Ocorre que o ciclo de vida do PVC –  desde sua fabricação até aplicação e descarte – é agressivo ao meio ambiente e a saúde das pessoas. Ambientalistas pressionam fabricantes a substituírem o material por outros menos nocivos, ma por demanda de mercado o PVC continua presente não apenas em materiais elétricos, mas em eletrônicos, brinquedos, equipamentos hospitalares, na construção civil, entre outras aplicações.

O PVC

O PVC é um polímero obtido a partir do cloreto de vinila, um monômero formado pela reação de cloro (57% em peso do polímero) e eteno (43% em peso). De acordo com o Instituto do PVC, estes produtos químicos tem sua origem em duas matéria-primas de origem natural, o sal comum, cloreto de sódio (NaCI) e o petróleo. O cloro é obtido por eletrólise, cloreto de sódio de NaCI, conhecida como salmoura. O processo envolve uma reação química resultante da passagem de corrente elétrica pela salmoura, que produz, além do cloro, soda cáustica e hidrogênio. O eteno por sua vez é obtido por processo de pirólise (quebra de ligações químicas pelo calor) da fração nafta obtida no refino do petróleo, ou de frações líquidas de gás natural.

Em sua forma pura, o PVC é rígido e quebradiço. Para tornar os produtos flexíveis, plastificantes precisam ser adicionados em grandes quantidade ao PVC, acima de 60% em peso do produto final. O grupo dominante de plastificantes utilizados em vinil é uma classe de compostos denominados ftalatos e que colocam consideráveis riscos a saúde e ao ambiente. Mais de cinco milhões de toneladas de ftalatos são utilizados em PVC a cada ano.

Milhões de toneladas de ftalatos são liberadas atualmente no ambiente durante a formulação e moldagem de produtos de PVC. Ftalatos também são liberados quando o PVC é jogado em lixões ou incinerado e mesmo quando acidentalmente os produtos de PVC são queimados.

Para se ter ideia, um comitê de especialistas do Programa Federal de Toxicologia dos Estados Unidos analisou os riscos do ftalato (DEHP, o plastificante mais comum de PVC) e publicou sua ”inquietação quanto a exposição de crianças ao produto, pois este poderia afastar negativamente o desenvolvimento do aparelho reprodutivo masculino”.

Uma nota da Anvisa, publicada no ano de 2000, considerou que os seguintes ftalatos estão autorizados a serem utilizados em embalagens e equipamentos plásticos em contato com alimentos (Resolução nº 105/99): butila e benzila, dibutila, diciclohexila, dietila, diisodecila, di-2-extilexila (DEHP), dioctila. No caso do DEHP, existe uma condição para seu uso: somente poderá ser usado na proporção de, no máximo, 3% da matéria plástica (PVC). Isso por que este ftalato, segundo a avaliação do IARC – International Agency for Research on Cancêr, orgão ligado a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi classificado como substância do Grupo 3 (risco cancerígeno para seres humano não classificável), isto é, ainda não evidenciado para seres humanos, mas ainda sim, um risco.

Subprodutos do PVC

A formação de subprodutos organoclorados perigosos começa com a produção de gás cloro. Quantidades extremamente grandes, na ordem de um milhão de toneladas/ano, de resíduos clorados perigosos são gerados na síntese de etileno: dicloreto (ethylene diclhoride – EDC) e monovinil cloreto (vynil chloride monomer-VCM), ambos precursores do PVC.

Ainda mais subprodutos são criados  e liberados no ambiente durante a incineração de resíduos perigosos oriundos do EDC e do VCM:

  • Na incineração de produtos de PVC (vinil) no fluxo dos lixos;
  • Na reciclagem de produtos metálicos que contenham vinil, na combustão; e
  • Na queima acidental de PVC são altamente persistentes, bioacumulativos e tóxicos.

PVC  na Indústria elétrica

No caso dos equipamentos elétricos, especificamente fios e cabos, se estes forem sujeitos a m incêndio, a queima do PVC emite muita fumaça escuta e o ácido  clorídrico emitido também é extremamente tóxico e corrosivo. ” A queima deu m simples pedaço de PVC  dentro de um painel elétrico, por exemplo, pode ocorrer os contatos dos dispositivos, como relés, fusíveis e disjuntores, podendo gerar grandes danos a instalação ou até mesmo um incêndio de grandes proporções ” , explica o engenheiro Hilton Moreno. Embora o PVC reúna qualidades importantes, as características  negativas exercem grande influência sobre a decisão de seu emprego ou não. O xxxx da Nexans, Alvaro Luccas ratifica que, em condições de incêndio, no processo de carbonização do PVC  é emitida uma fumaça densa e escura, que prejudica a visibilidade, dificultando a fuga das pessoas e o próprio incêndio. ” Nesta mesma condição, o PVC emite gases tóxicos e corrosivos que podem cercear a vida das pessoas ao mesmo tempo em que corroem as partes metálicas dos equipamentos eletroeletrônicos”, explica.

Para uso em fios e cabos elétricos, os compostos de PVC precisam de aditivos em sua composição para garantir a preservação de certa propriedade mecânicas ao longo do tempo de vida útil dos condutores. O especialista Francisco Neto, da engenharia da Wirex Cable, explica que estes aditivos são chamados de  estabilizantes e o principal sistema utilizado atualmente é a base de chumbo, um metal pesado nocivo a natureza no momento em que os condutores são descartados. ” Com o intuito de eliminar o chumbo dos compostos de PVC, outros sistemas estabilizantes  foram desenvolvidos para este polímero, porém sem muita vantagem do ponto de vista de proteção ao ambiente, pois acabaram utilizando outras substâncias temíveis pela sua ação contra a natureza, como por exemplo, o cádmio e o estanho”, conta.

Nesse  sentido, as regulamentações de segurança já preveem o uso de materiais menos agressivos em algumas situações específicos. A Instrução Técnica nº 41/2011, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo determina: ” Em particular, nos locais com concentração de pessoas e afluência de público, onde as linhas elétricas  são aparentes  ou contidas em espaços de construção, os cabos elétricos e/ou os condutores elétricos devem ser não propagantes de chamas, livre de halogênio e com baixa emissão de fumaça e gases tóxicos, conforme norma NBR 5410/04”.

Pensando, então, na segurança das pessoas e do patrimônio e, mais recentemente, nas regulamentações, diversas empresas já dispuseram no mercado fios e cabos constituídos de materiais não halogenados.

Dessa maneira, os materiais não halogenados constituem-se como os grandes substitutos do PVC por não conterem elementos químicos da família dos halogênios (cloro, bromo, iodo, flúor, e ástato) que, com exceção do iodo, são tóxicos e os seus gases podem ocasionar queimaduras nas vias respiratórias.

O engenheiro da Wirex Cable, lembra que os compostos a base de EVA (Copolímero de Etileno-acetato de vinila) substituem o PVC com eficiência. Aos poucos, este material vem se tornando economicamente mais viável. ” A tendência é de que, com o aumento da demanda do mercado, os preços destas matérias-primas possam se tornar em pouco tempo competitivas em ralão ao PVC ”, prevê Neto. Segundo o engenheiro, em termos de desempenho, os compostos de EVA atualmente podem ser considerados equivalentes aos de PVC nos que tange as suas características elétricas, como a resitividade do isolamento. ” Já em termos de resistência mecânica, apresentam algumas propriedades como alongamentos e resistência ao rasgamento um pouco inferiores as do PVC, mas que acabam não prejudicando significativamente o desempenho do produto”, conclui. O problema, neste caso, é que o EVA não é biodegradável, acumulando-se ao longo do tempo nos aterros.

O Greenpeace e o PVC

Em novembro de 2010, o Greenpeace publicou o 16º Guia de Eletrônicos Verdes, publicação trimestral que revela as marcas que cuidam da saúde humana e ambiental. Neste documento, a ONG elogia a Philips, a Acer e a HP, que lançaram produtos livres de PVC, mas critica a outras grandes empresas, como a Toshiba, LGE, Snasung, Dell e Lenovo, que não haviam lançado no mercado nenhum produto livre de PVC.

O instituto do PVC se manifestou e alegou não haver composições técnicas e científicas que comprovem as criticas quanto ao uso do plástico.

O Greenpeace se baseia na Diretiva Europeia RoHS (Restriction of the use of Certain Hazardous Substances in Eletrical and Eletronic Equipament), que determinou que a partir de 1º de julho de 2006 os novos equipamentos elétricos e eletrônicos comercializados não contenham nenhuma das seis substâncias proibidas :chumbo, mercúrio, cádmo, cromo hexavalente, bifenilos polibromados (PBB) e éteres Difenílicos Polobromados (PBDE).

As principais matérias-primas do PVC são sal marinho e petróleo(este já podendo ser substituído pelo eteno produzido da cana-de-açúcar). Logo, o Instituo do PVC afirma que não há razões técnicas, cientificas  ou legislações para que as empresas de elétricos e eletrônicos eliminem o PVC de seus produtos. ” Ele é inerte, atóxico, seguro e largamente utilizado no segmento de eletroeletrônicos, principalmente em fios e cabos”, diz o Instituto.

Extraído da Revista O Setor Elétrico, Edição 67, Agosto de 2011.