Três temas e uma só pergunta: nossas instalações elétricas estão adequadas? 2ª parte

Começamos a fazer na edição passada algumas reflexões sobre segurança, acessibilidade e qualidade das instalações elétricas em locais que atendem e recebem crianças pequenas, pessoas idosas e/ou com dificuldade de locomoção, bem como que alimentam equipamentos vitais para a manutenção da vida das pessoas enfermas. Naquela edição foram abordados quesitos de segurança e, a seguir, discutiremos a questão da acessibilidade.

Conforme a Wikipédia, acessibilidade significa não apenas permitir que pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida participem de atividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a inclusão e extensão de seu uso por todas as parcelas presentes em uma determinada população.

Na arquitetura e no urbanismo, a acessibilidade tem sido uma preocupação constante nas últimas décadas. Atualmente, estão em andamento obras e serviços de adequação do espaço urbano e dos edifícios às necessidades de inclusão de toda a população. Mas o que podemos dizer sobre a acessibilidade das instalações elétricas? A ABNT NBR 5410, por exemplo, tem alguma recomendação sobre o assunto? Ou alguma outra norma teria? Longe de conhecer todas as normas técnicas, penso que este tema ainda passa longe de nossos documentos técnicos.

O que deve ser feito em uma instalação elétrica que atende prioritariamente a pessoas idosas, doentes e/ou com dificuldade de locomoção? Os simples atos de ligar/desligar um interruptor ou inserir/retirar um plugue de uma tomada podem ser quase impossíveis de executar para uma pessoa em uma cadeira de rodas, total ou parcialmente paralisada. Ou então o exemplo de uma pessoa idosa, mesmo que não paralisada, mas que tenha movimentos muito lentos, dificultados pelo implacável passar dos anos, pode não conseguir acender e apagar uma lâmpada, atividade tão rotineira para as demais pessoas.

É importante lembrar que o contingente de pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida que moram sozinhas ou que têm companhia eventual apenas em determinados horários do dia ou da noite aumenta a cada dia que passa em todo o mundo. Dessa forma, é imperativa a reflexão sobre como tornar as instalações elétricas acessíveis e amigáveis para este universo cada vez maior de pessoas.

Em alguns países da Europa e dos Estados Unidos, faz algum tempo que este tema vem sendo enfrentado pelos especialistas. E, de forma geral, a solução encontrada passa sempre pelo uso da mesma “ferramenta”: automação residencial.

O emprego nas instalações elétricas de sensores de movimento e de voz que acionam luzes, aparelhos eletroeletrônicos, alarmes, campainhas, cortinas, etc. tornam a vida menos difícil para as pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida.

A integração tão necessária entre os projetos de automação residencial e de instalações elétricas é fundamental nos casos de locais que necessitam considerar as questões fundamentais de acessibilidade.

É importante destacar neste ponto da reflexão que a presença de pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida não é exclusiva de clínicas de repouso, por exemplo, mas em uma casa ou apartamento “comum”. Dessa forma, planejar uma instalação elétrica para que possa receber, de imediato ou em algum momento no futuro, alguma automação que vise a facilitar o acesso das pessoas às tarefas mais elementares de acender/apagar, ligar/desligar é um serviço de grande utilidade que os profissionais especialistas podem prestar à comunidade. Obviamente, incluir requisitos de automação nas instalações encarece o empreendimento, porém, sem dúvida, torna-o mais humano e, possivelmente, mais fácil de ser comercializado, pois incorpora um grande diferencial no mercado.

Uma das propostas neste assunto é, por exemplo, considerar um projeto que inclua requisitos de pré-automação residencial, definida aqui como a instalação da infraestrutura (condutos, quadros, caixas, etc.) necessária para receber uma futura automação. Aproveitando a infraestrutura, podem ser instalados, no começo, alguns itens simples de automação, como sensores de presença em apenas alguns cômodos do local, deixando para mais tarde e aos poucos a inclusão de outros itens da automação. O custo da instalação apenas da infraestrutura de automação é relativamente baixo no contexto da obra e poderia, na maioria dos casos, ser considerado como viável.

Seja lá qual for a solução técnica encontrada, este artigo chama a atenção para a questão da acessibilidade que deve ser incorporada ao dia a dia dos projetos de instalações elétricas.

Este artigo continua na próxima edição abordando os aspectos da qualidade das instalações elétricas nos três grupos de usuários.