Três temas e uma só pergunta: nossas instalações elétricas estão adequadas?

Por Hilton Moreno

O que há em comum entre as instalações elétricas em locais que atendem e recebem crianças pequenas, instalações que atendem e recebem pessoas idosas e/ou com dificuldade de locomoção e instalações que alimentam equipamentos vitais para manutenção da vida das pessoas enfermas?

 No primeiro grupo estão creches, berçários, escolas maternais e outros locais que atendem crianças que engatinham, estão começando a andar ou já andam bem e que, acima de tudo, como qualquer criança, são extremamente curiosas e ativas.

No segundo grupo, temos os asilos, clínicas de repouso e demais locais que recebem e cuidam daqueles que já atingiram a maturidade e que podem ter limitações de mobilidade em função da idade avançada.

No terceiro grupo, estão os estabelecimentos assistenciais de saúde em geral, mas, no âmbito deste artigo, vamos tratar dos chamados homecares, ou seja, casas, sobrados e apartamentos que, por necessidade, têm parte de sua área transformada em quartos de hospitais que muitas vezes lembram um CTI (centro de terapia intensiva). Esta prática de homecare é adotada em muitos países como opção mais barata e humana no tratamento de pacientes com doenças graves que condicionam a sustentação da vida à ligação a aparelhos e equipamentos geralmente eletroeletrônicos. Note que este caso não escolhe idade das pessoas, incluindo desde recém-nascidos até pessoas muito idosas que têm suas vidas dependendo do funcionamento adequado de uma máquina.

Os três grupos tratados neste artigo têm necessidades muito parecidas em relação às instalações elétricas: segurança, acessibilidade e qualidade. Em outras palavras, todas as instalações elétricas que atendem aos três grupos têm de estar adequadas às necessidades específicas de cada tipo de usuário. Vejamos cada caso.

Segurança

Crianças muito pequenas são também muito curiosas. Exploram cada cantinho do local em que estão e têm uma curiosidade especial por “buracos”. Não importa se buracos redondos, retangulares, triangulares, ou seja lá qual formato tiverem. Além disso, adoram movimentar objetos para cima e para baixo (chacoalhar) e não podem ver uma porta aberta que lá vão elas espiar e tocar em tudo o que puderem no novo local descoberto.

Uma pequena tradução destes comportamentos tão naturais das crianças pequenas para a linguagem das instalações elétricas é a prática de não deixar tomadas ao alcance das crianças pequenas que engatinham ou que ainda são de baixa estatura. Cabe ao projetista e ao instalador de uma creche, por exemplo, prever tomadas numa altura de, pelo menos, 1,2 metro, que ficam fora do alcance das mãos de uma criança pequena, mesmo com o braço esticado. A mesma recomendação de altura vale para os interruptores, que devem ficar fora do alcance dos “baixinhos”, pois eles adoram ligar-desligar-ligar-….. os interruptores, o que, em algum momento, pode significar algum problema para quem manusear tal dispositivo. Além destes aspectos, vale lembrar que os quadros elétricos e caixas em geral devem sempre ter portas e tampas com difícil remoção, evitando assim que as crianças tenham acesso às partes vivas e fiquem sujeitas aos enormes riscos de choques elétricos. Nem é preciso mencionar a importância fundamental da existência nos locais que recebem crianças de uma adequada infraestrutura de aterramento (eletrodos, condutores de proteção, tomadas com contato de aterramento, etc.) e o uso de DRs de alta sensibilidade (se possível, com correntes de sensibilidade de 10 mA ao invés do tradicional 30 mA que é o valor indicado pela ABNT NBR 5410).

A segurança da instalação elétrica para o segundo grupo, das casas de repouso, tem a ver com a proteção contra contatos indiretos, tais como os infelizmente usuais choques em chuveiros elétricos, geladeiras, etc. Assim como no caso das creches, a existência da infraestrutura de aterramento e o uso de DRs de alta sensibilidade são absolutamente essenciais. Além disso, incêndios de origem elétrica em locais como estes resultam sempre em graves ferimentos e até mortes devido à grande dificuldade para alguns idosos se retirarem do local. Neste sentido, o correto dimensionamento dos circuitos e o uso de materiais não halogenados e com baixa emissão de fumaça e gases tóxicos são medidas preventivas salutares em locais como estes.

Para os homecares, segurança significa manter a integridade e o funcionamento dos componentes da instalação e dos equipamentos que sustentam a vida. Para isso, o projeto deve incluir a seleção adequada dos dispositivos de proteção contra sobrecorrentes e sobretensões. Toda instalação que alimenta um homecare deveria dispor de fonte de segurança, tais como UPS e pequenos geradores. Um paciente ligado a um equipamento de sustentação de vida simplesmente não pode esperar a volta da energia elétrica após 3, 4 ou às vezes 12 ou mais horas durante um apagão. É isso mesmo: independentemente dos motivos, quando alguém se dispõe a montar um homecare em seu apartamento, é preciso garantir o suprimento ininterrupto de energia. E nem sempre o tempo de duração das baterias de um nobreak é suficiente para manter os equipamentos essenciais à vida em funcionamento e aí é necessária a atuação de um gerador, mesmo que de pequeno porte.

Este tema é novo no Brasil, mas tem um potencial de crescimento enorme, na medida em que já é realidade no exterior. Como adaptar a instalação elétrica de um apartamento ou casa para receber um homecare é uma pergunta de difícil resposta, mas o desafio está aí para ser resolvido. Como instalar com segurança um pequeno gerador em um apartamento situado no 18º andar de um prédio, cuja vizinhança é extremamente exigente em termos de barulho? Será que o conselho do prédio deixaria instalar no subsolo ou no jardim?

Este assunto continua no Próximo Post.

Extraido da Revista O Setor Elétrico.