Vestimentas de segurança em ambientes EX

POR LEANDRO ERTHAL E MARIA ELIZABETH GUIMARÃES

A EXPERIÊNCIA DE UM EMPRESA DE PETRÓLEO  NA AQUISIÇÃO DE ROUPAS DE SEGURANÇA PARA PROFISSIONAIS QUE ATUAM EM SERVIÇOS DE ELETRICIDADE

Para atender ao que determina a norma regulamentadora nº16 foi realizado um estudo técnico bucsando as melhores práticas e descritivos adequados para serviços em eletricidade.

Esta vestimenta deve ser aos requisitos técnicos relativos a resistência  ao fogo (RF), por ser utilizada em ambientes das industrias  química, petroquímica e de petróleo, e  requisitos técnicos para a proteção dos trabalhadores expostos ao arco-voltaico.

Este trabalho apresenta critérios técnicos para que is fornecedores de vestimentas de segurança participem de licitações em igualdade de condições. Tais critérios foram baseados em ensaios de laboratório na redução das variedade buscando as melhores  práticas e em normalização técnica americana e internacional.

O resultado do trabalho de padronização destas vestimentas de segurança gerou critérios técnicos para as seguintes tipologias:

  • Calça social e camisa social para uso diário – categoria de risco 2;
  • Macacão para uso diário – categoria de risco 2;
  • Luva de cobertura – categoria de risco 2;
  • Balaclava – categoria de risco 2;
  • Calça e blusão de segurança para uso em manobras – categoria risco 2;
  • Luva isolante + luva de cobertura – categoria de risco 3 e 4;
  • Capuz protetor – categoria de risco 3 e 4; e
  • Avental longo – categoria de risco 3 e 41

Este trabalho começou a ser desenvolvido em 2006, através de visitas técnicas a confecções, fabricantes de tecido e laboratórios de ensaios no Brasil, Estados Unidos e Canadá, visando a conhecer a cadeia têxtil e esclarecer dúvidas de processo de fabricação, materiais e normalização.

Os engenheiros eletricistas brasileiros possuem competência técnica para estabelecer  parâmetros  e calcular os níveis de curto circuito de um sistema elétrico. Partindo desta premissa, parece lógico  que o estabelecimento de roupas de proteção para o trabalhador em serviços de eletricidade seja uma atividade considerada simples, obtida  por consulta aos catálogos e áreas comerciais de empresas fornecedoras  deste produto. A prática indica que problemas relacionados aos métodos de ensaios, norma técnicas, tecnologia de materiais e características fabris de vestimentas de proteção podem gerar um número surpreendente de dificuldade no estabelecimento de seus descritivos e na aquisição deste produtos.

Um longo caminho

É parte integrante de um programa de segurança industrial a preocupação com a adequada aplicação das vestimentas  profissionais com propriedades de proteção do trabalhador. No Brasil, as normas regulamentadoras (NRs) e as portarias do Ministério do Trabalho e Emprego são os documentos que estabelecem os requisitos legais aplicáveis a Segurança e Medicina do Trabalho. A  NR6 – Equipamento de Proteção Individual utilizado pelo trabalhador, destinado a proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.

Segundo a visão prevencionista, os EPIs são a última barreira de proteção contra uma fonte de enrgia que pode entrar em contato com o ser humano. Pela visão legalista, o item 6.3 da NR 6  estabelece que ” a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento”, na seguinte circunstância:

”(a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho”.

Complementarmente, a NR10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade estabelece que:

10.2.9.1 Nos trabalhos em instalações elétricas, quando as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis ou insuficientes para controlar os riscos, devem ser adotados equipamentos de proteção individual específicos e adequados as atividades desenvolvidas em atendimento ao disposto na NR6”

Determina ainda que:

” 10.2.9.2 As vestimentos de trabalho devem ser adequadas as atividades devendo contemplar a condutibilidade, inflamabilidade e influências eletromagnéticas ”

A maioria dos acidentes acontece quando o operador ou eletricista precisa remover barreiras de proteções como porta de painéis, instalar ou inserir ou remover componentes, por exemplo, disjuntores, com os equipamentos energizados. Nestas  situações só depende da prática segura e do uso do EPI adequado. É justamente nesta condição de trabalho que devemos ficar atentos, proporcionando proteção adequada.

Os arcos elétricos ocorrem de forma inesperada e em geral ocasionada por falhas de projeto (dimensionamento, isolação, proteção de circuitos, seletividade etc.) falhas de material (fadiga, componentes centelhantes, rompimentos etc) ou falhas humanas (procedimento manutenção inadequada ou contatos involuntário).

Este fenômeno pode ocasionar liberação intensa de calor, energia, raios ultravioleta, pressão sonora, forte deslocamento de ar, liberação de partículas ionizadas e liberação de gases e vapores tóxicos com potencial de dano as instalações e lesões ao trabalhador, podendo inclusive leva-lo ao óbito.

Segundo Conceição, o estudo de caso apresentado no seu artigo ” Adequação do controle de energia segura da subestação em relação  ao profissional da área elétrica ” aborda o método adotado para o cálculo da energia incidente e as medidas estabelecidas para a diminuição destes níveis, originando como resultado que energias incidentes, originalmente em torno de 145cal/cm², após implementação da solução podem ficar abaixo de 10cal/cm².

Esta diminuição da energia incidente representa maior segurança e conforto ao profissional de eletricidade, sendo possível utilizar vestimentas de segurança apropriadas aos níveis de energia incidentes e capazes de garantir que mesmo, quando exposto ao arco  voltaico, possam suportar temperaturas  elevadas, sem a ocorrência de queimaduras em seus usuários a após a extinção do arco não mantenha a combustão do material. Em continuidade ao trabalho do Conceição, foi  necessária a criação de descritivos padronizados para estas vestimentas e a preparação de processos de aquisição centralizados para garantir o cumprimento das exigências específicas, a rastreabilidade sobre as peças adquiridas.

Dificuldade

A primeira dificuldade encontrada foi estabelecer o conjunto de normas técnicas e ensaios necessários para garantir que os EPIs a serem atendessem as condições de energia incidente encontradas na área operacional.

Como o Brasil não possui normalização sobre o assunto a orientação é buscar normalização internacional, porém neste caso, a normalização estrangeira americana é mais completa e  restritiva. Dessa forma, decidiu-se por estabelecer esta normalização a ser adotada.

Baseada na norma Petrobras N-2830, foi estabelecido que além de Certificado de  Aprovação (CA) estabelecido  na NR-06, é obrigatório:

a) Vestimentas para uso diário em serviços de eletricidade, predominante nos principais cenários nas instalações industriais, devem ser categoria de risco e atender as seguintes características :

  • Camisa de manga comprida: ATPV mínimo de 8cal/cm²;
  • Calça Comprida: ATPV mínimo  de 0 8cal/cm²;
  • Protetor facial acoplável ao capacete: ATPV mínimo de 8 cal/cm²;
  • Capa de chuva: ATPV mínimo de 8 cal/cm²;
  • Luva de Cobertura em vaqueta: ATPV mínimo de 0 8 cal/cm²;
  • Balaclava: ATPV mínimo de 8 cal/cm².

b)Vestimentas para uso em manobras devem possuir ATPV superior a maior energia de arco  calculada para cada local. A vestimenta deve incluir protetor facial tipo varrasco e luvas com o mesmo ATPV.

C) Requisitos especiais para as vestimentas:

  • A linhas utilizadas nas costuras das vestimentas devem ser de fibras resistentes ao fogo;
  • Botões, zíperes ou fechamentos da vestimentas devem ser de material não condutor. Caso sejam de material condutor devem ser cobertas com material resistente ao fogo na parte com a pele ou roupa de baixo;
  • Botões, zíper ou fechamentos não devem degradar o desempenho de resistência ao fogo da vestimenta;
  • A etiqueta da vestimenta deve conter, no mínimo as seguintes informações:

Nome do fabricante;

Tamanho;

Instruções de cuidados;

Nível de energia do arco ATPV;

Observação : NÃO REMOVA.

  • As vestimentas devem apresentar em local visível a categoria de risco, sempre na parte superior da peça no bolso direito;
  • O fornecedor do EPI deve fornecer Certificado de Aprovação (CA) do EPI da fabricação nacional, emitido pelo Ministério do Trabalho do Emprego com data de validade;
  • Devem ser fornecidos junto com  a vestimenta  os certificados de teste de laboratório conforme as normas : ASTM F 1506 – 02ª , ASTM D 6413 – 08, ASTM  F 1959/F 1959M – 06ª, ASTM F 2621 – 06, ASTN F 1891 – 06, ASTM F 2178 – 08, ANSI Z 87.1.NBR 8221.
  • As vestimentas devem cobrir completamente as áreas expostas ao arco elétrico;
  • O fabricante da vestimenta deve fornecer as instruções de cuidados e lavagem da vestimenta;
  • Se a vestimenta for feita de tecido em canada simples ou em multicamadas, os testes de performance térmica devem ser realizados em amostras do tecido e em camadas múltiplas;
  • Devem ser apresentados certificados de teste de laboratório independentemente dos protetores faciais. Os protetores devem atender também a ANSI Z87.1.

Estabelecidos os ensaios necessários , o passo seguinte é verificar se as vestimentas de proteção efetivamente atendem  a estas conformidades normativas. Dos fabricantes contatados, alguns possuíam apenas ensaios para os tecidos com que confeccionam suas vestimentas, outros possuíam ensaios da vestimenta completa, porém, realizados pelas próprias empresas fabricantes têxteis.

Muitos ainda fazem confusão de que seja uma vestimenta de proteção  resistente a fogo, denominada RF a apropriada a arco elétrico. Os ensaios que devem ser realizados são diferentes em virtude do tipo de energia incidente e do tempo de exposição.

Foi estabelecido nas especificações técnicas que is ensaios devem ser apresentados em nome da confecção, contando no mesmo o tipo de material que está sendo ensaiado (gramatura e composição têxtil) e em protótipo  previamente aprovado, assim como o acompanhamento do contrato com auditoriais de avaliação em laboratório de ensaio:

Algumas dúvidas que ocorrem no processo de compra destas vestimentas de segurança:

  • Como evitar que um fabricante forneça  vestimentas com ensaios realizados em produtos produzidos por outro;
  • Como garantir a não ocorrência de obtenção de resultados ” fabricados” para conferir a sua linha de produtos um nível de proteção que efetivamente não existe;
  • Como garantir que os produtos que estão sendo produzidos mantenham-se dentro dos padrões normalizados ao longo do tempo de fabricação;
  • Como orientar is nossos usuários quanto ai uso adequado e preservação das vestimentas;
  • Como garantir a rastreabilidade das peças.

Outros Complicadores

Ao solucionar as questões elaboradas nos itens anteriores, nos deparamos com questões  vitais que afetam o conforto, a qualidade, a durabilidade, e o preço final.

O mercado oferece uma gama de produtos em que suas matérias-primas são completamente  diferentes nas suas especificações técnicas:

Composição das fibras dos tecidos

Por questões de exclusividade quanto ao material oferecido pelos fabricantes de tecido, temos vestimentas produzidas com algodão quimicamente tratado (retardante de chamas), algodão quimicamente tratado e posteriormente polimerizado, fibras sintéticas (metaaramidas, para-araminadas, polibenzimidazole, entre outras) e fibras exclusivas conhecidas no mercado como marca registrada.

Em uma análise mais detalhada dos produtos oferecidos e ensaios realizados, verifica-se que:

  • Os tecidos compostos por algodão, quimicamente tratados e sem polimerização, mesmo atendendo inicialmente aos ensaios estabelecidos, perdem a sua característica de proteção após sucessivas lavagens, além do encolhimento severo e perda da resistência mecânica em processos de lavagens industrial (menor durabilidade);
  • Os tecidos compostos por algodão, quimicamente tratados e polimerizados, mantêm suas características de proteção durante toda a vida útil do produto desde que seguidas as orientações quanto a manutenção da peça e apresentam um menor encolhimento;
  • Os tecidos sintéticos, meta-aramidas e também as fibras exclusivas, mantém suas propriedades ao longo da vida útil.

Conforto

Um dos problemas observados nas vestimentas se relaciona ao conforto na utilização ao longo do trabalho, devido principalmente a gramatura do tecido (gramas por centímetros quadrados).

Vestimentas com gramaturas superiores a 260 gr/cv² geram elevados níveis de desconforto, pois são pesadas, principalmente quando a vestimenta é um macacão, sendo pouco apropriado em climas tropicais. É um tipo de vestimenta inadequado para uso diário, o que faz a força de trabalho ter grande resistência a sua utilização.

Outro fator muito importante para o nosso clima e que o comprador nem sempre presta atenção é a capacidade que o tecido possuí de permitir a troca de ar entre o meio externo o interno a vestimenta. Portanto o tempo de utilização da vestimenta deve ser considerado na hora de especificar a gramatura a ser utilizada.

Durabilidade

Outro ponto que deve ser levado em consideração refere-se aos cuidados a serem observados pelo consumidor para a manutenção da qualidade da vestimenta e de sua durabilidade.

As unidades industriais, principalmente off-shore, possuem lavanderias industriais. Elas realizam a lavagem de diversas itens tais como: roupas de cama, vestimentas normais de algodão, vestimentas de segurança e vestimentas de segurança para arco elétrico.

Os padrões a serem atendidos para cada um destes itens são diferentes e podem gerar deterioração precoce das vestimentas comprometendo a qualidade e reduzindo a vida útil. Estas situações podem ser:

  • A temperatura da água acima de 60° C pode provocar o encolhimento das fibras de algodão, causando deformação na modelagem e na simetria da trama da vestimenta, impactando o nível de proteção;
  • Após a lavagem de peças de algodão, podem ficar resíduos dentro da lavadora. Numa lavagem subsequente, estes podem ficar afixados nas vestimentas especiais. Isto é, pode causar a modificação das características  de proteção pois em caso de arco elétrico, o tempo de queima vertical será aumentado podendo gerar danos ao seu usuário;
  • Utilização de produtos químicos na água de lavagem pode deteriorar a resistência mecânica das vestimentas entre outras.

Preço e competitividade

Conforme as análises anteriores, os materiais dos tecidos possuem características técnicas divergentes o que torna difícil uma especificação de modo a contemplar o mercado. Para a realização de processo de compra em empresas sob a vigência da lei de licitações é necessário que os descritivos das vestimentas estejam adequadas para que todos os participantes e em igualdade de condições para efetuar suas cotações.

Novas legislações

As normas internacionais ISO/IEC recentemente revisadas ou publicadas estão citadas como referência a ser seguida na Portaria nº 121/2009 e na Nota Técnica nº 174/2010 do Ministério de Trabalho e Emprego. Esta legislação traz um novo posicionamento ao mercado quanto a exigência de ensaios e requisitos  para o obtenção dos CA destes EPIs.

No momento, existem muitas dúvidas em virtude da divergência  de ensaios entre as normas americanas e internacionais e dos laboratórios de ensaios acreditados.

A ABNT está elaborando um conjunto de normas técnicas capazes de orientar fabricantes e consumidores quanto aos requisitos técnicos e ensaios necessários para atendimento legal.

Conclusões

Em face do exposto, acima podemos afirmar que elaborar especificações padronizadas é de fundamental importância para assegurar que todo o processo de aquisição, uso, auditagem e conservação das peças possa assegurar as características de proteção adequadas.

Ainda assim, persistem algumas dúvidas que necessitam outras pesquisas de avaliação:

1) Quanto a troca técnica, não existem parâmetros para determinar conforto em vestimentas de segurança. Utilizamos apenas a gramatura como referência.

2) Se há liberação de produtos tóxicos ao longo da vida útil da peça, durante o contato com a pele humana, em processos de lavagem ou em combustão.

3)Quanto as descarte destes materiais, o que fazer para evitar que haja agravamento do impacto ambiental, considerando que levam muitos anos para atingir a total degradação?

Temos que nos adequar a nova realidade existente no Brasil, buscando atender aos requisitos legais, de segurança e saúde do trabalhador e de proteção ao meio ambiente.

REVISTA O SETOR ELÉTRICO, EDIÇÃO 74. Março 2012.