Benefícios proporcionados pela redução do tempo de parada de trabalho em áreas abertas

A atividade econômica em áreas abertas, como na agricultura, construção civil e extração mineral,
depende fundamentalmente das condições climáticas e da segurança dos trabalhadores.
Um dos maiores desafios enfrentados por esses setores é a interrupção das operações devido
a eventos climáticos adversos, especialmente tempestades e raios. As paradas podem resultar
em perdas significativas de produtividade e, consequentemente, financeiras. Neste artigo, exploraremos
como a redução do tempo de parada pode impactar positivamente nesses setores, comparando dois tipos
de sistemas de alerta: os de detecção de campo elétrico (detecção local) e os sistemas meteorológicos
(detecção remota).

A Importância da Prevenção

As interrupções em ambientes de trabalho situados em áreas abertas podem ocorrer devido a fenômenos
naturais como chuva intensa, ventos fortes ou, mais especificamente, descargas atmosféricas. Esses eventos não apenas prejudicam o trabalho no local, mas também afetam a logística de suprimentos, a segurança dos trabalhadores e a continuidade das operações. A implementação de tecnologias de alerta
eficazes é crítica para minimizar o tempo de parada, garantindo a segurança e a saúde dos trabalhadores
e, ao mesmo tempo que, maximiza a eficiência operacional.

Os sistemas de alerta de tempestades elétricas (SATE), normalizados na norma ABNT NBR 16785, possuem
quatro classificações. Aqui será tratado o sistema baseado na detecção do campo elétrico, e classificado
como DCE, que opera na medição de variações das cargas elétricas do solo. Este tipo de sistema fornece uma resposta rápida e precisa à aproximação de tempestades, detectando a variação das cargas elétricas que precedem a ocorrência das descargas atmosféricas. A principal vantagem desses sistemas é que eles podem alertar as pessoas minutos antes de um evento relacionado ao raio (ERR) acontecer, mesmo se este evento estiver se formando sobre a área monitorada (área alvo), permitindo que as operações sejam interrompidas intempestivamente e outros procedimentos sejam adotados de maneira controlada e segura.

Os sistemas de alerta remotos, por outro lado, baseiam-se em informações coletadas a partir de satélites,
estações meteorológicas, modelos climáticos e na leitura do campo magnético provocado pelo
raio, ou seja, após o evento ter acontecido. Embora ofereçam dados abrangentes para previsões futuras
e composição de estudos estatísticos avançados, como a probabilidade de chuvas ou a intensidade das
tempestades, a resposta pode ser menos imediata em comparação com a detecção local. Os alertas meteorológicos costumam informar sobre condições climáticas adversas, mas não garantem a detecção da proximidade imediata de um ERR específico

Funcionamento dos sistemas frente às tempestades elétricas

Sistema de detecção Local

O conceito das etapas de uma tempestade elétrica, quando aplicado aos alertas do sistema de detecção
de campo elétrico, envolve uma sequência de alertas que indica o nível de risco associado à atividade
elétrica no local.

O alerta amarelo é o primeiro nível, indicando a presença de atividade elétrica potencialmente associada
a tempestades nas proximidades ou formando-se no local. Nesse estágio, é recomendado que pessoas permaneçam atentas às condições meteorológicas, adotando precauções básicas, como evitar estar em áreas abertas e longe de objetos isolados, como árvores e postes.

O alerta laranja representa um aumento significativo na atividade elétrica e a iminência de tempestades
mais severas. Este nível é um aviso claro de que as condições estão se tornando perigosas. As recomendações incluem o retorno para locais seguros (fechados e dotados de SPDA), evitando atividades
ao ar livre e garantindo que as instalações elétricas e processos estejam devidamente desligados para
minimizar o risco de danos causados pelos raios.

O alerta vermelho representa o nível mais crítico, sinalizando que uma tempestade elétrica severa está
em curso ou prestes a se concretizar. As medidas de segurança devem ter sido rigorosamente seguidas,
com a evacuação de áreas expostas e desconexão de equipamentos elétricos.

No cenário inverso, com a tempestade elétrica se dissipando é essencial garantir as condições de
baixo risco para a liberação segura das pessoas e o reestabelecimento adequado do funcionamento dos
equipamentos. Este retorno à normalidade deve ser meticulosamente planejado e conduzido.

Após a emissão de um alerta vermelho, que indica a presença de tempestades severas, o primeiro
passo é aguardar o aviso de que a atividade elétrica diminuiu e que a tempestade passou para níveis
inferiores, mais seguros. O sistema fornece indicadores claros que sinalizam a dissipação da atividade
elétrica, permitindo que as equipes responsáveis comecem a avaliar a situação.


Com a emissão do alerta laranja, a normalização começa a ser implementada. As equipes de monitoramento devem verificar as áreas externas e as instalações para garantir que não haja riscos remanescentes, como descargas elétricas, estruturas danificadas ou equipamentos comprometidos. A comunicação entre usuários e a equipe de segurança é fundamental para garantir que todos se sintam seguros antes de retomar atividades.


Quando o alerta laranja é substituído por um amarelo, indica-se que os níveis de atividade elétrica foram
significativamente reduzidos. Nesse ponto, pode-se começar a informar as pessoas sobre a possibilidade de retorno seguro às suas atividades. É importante que o monitoramento das condições meteorológicas e dos alertas permaneça, pois como em qualquer situação meteorológica a situação pode mudar rapidamente.


Em resumo, os alertas do sistema de detecção de campo elétrico são importantes ferramentas para a
gestão de riscos em situações monitoramento local de tempestades elétricas, garantindo que as equipes
treinadas adotem comportamentos seguros conforme a intensidade da tempestade.

Os sistemas de detecção remota

Esses sistemas operam principalmente por meio da leitura do campo magnético gerado pelas correntes
dos raios. Nesse contexto, o ERR deve ocorrer para depois ser registrado. As previsões são elaboradas
com base no rastro deixado pela tempestade, além de fatores como vento e outras variáveis atmosféricas.
Embora essa abordagem seja valiosa para pesquisas relacionadas a fenômenos sazonais, apresenta
limitações significativas na detecção local de tempestades. Em cenários de início da tempestade, onde os
procedimentos de segurança são fundamentados neste tipo de detecção, os prazos para a implementação
de ações preventivas devem ser consideravelmente mais curtos em comparação aos sistemas que
monitoram o campo elétrico. Por outro lado, o tempo necessário para a retomada das atividades deve ser
mais prolongado, o que resulta em um aumento expressivo no período de paralisação total.

Economia Gerada

A redução do tempo de parada proporcionada pelos sistemas de detecção de campo elétrico tem um
impacto econômico direto. Quando os alertas são emitidos com antecedência, as operações podem ser
interrompidas antes que as condições climáticas se tornem de alto risco e retomadas logo após passada a
fase crítica da tempestade, proporcionando tempos de parada mais curtos e ainda dentro de limites aceitáveis de segurança, o que não apenas protege os trabalhadores, mas também previne perdas materiais e financeiras.

A utilização de sistemas meteorológicos pode resultar em economia caso haja programação antecipada
que permita planejamento de suas operações. Ao ter acesso a previsões climáticas, é possível estatisticamente ajustar cronogramas e implementar medidas preventivas sazonais apenas.

Comparação de Eficiência Econômica

Ao comparar a eficiência econômica dos dois sistemas, algumas considerações se destacam. Enquanto
os sistemas de detecção de campo elétrico oferecem alertas mais imediatos e específicos, diminuindo
drasticamente o tempo de parada, os sistemas meteorológicos permitem um planejamento sazonal estratégico, portanto, a escolha entre eles deve considerar o contexto da operação.

Mineradoras

Estudos apresentados por mineradoras operando no Brasil, de casos reais e que possuem ambos os
sistemas dão conta de que quando o objetivo for a diminuição do tempo de parada com segurança a proporção na eficiência é de 20% de contribuição para o sistema de detecção remota, baseada em sistemas meteorológicos e 80% de contribuição para o sistema de detecção local, baseado na leitura da variação do campo elétrico local.

Setor Agrícola

Em uma fazenda que utiliza os sistemas de detecção de campo elétrico, os agricultores podem interromper o uso de maquinário e proteger equipamentos valiosos em questão de minutos, salvaguardando tanto os trabalhadores quanto os investimentos. Isso resulta em uma recuperação mais rápida das atividades após a tempestade, aumentando a produtividade geral.

Construção Civil

Em canteiros de obras, os sistemas meteorológicos permitem um planejamento mensal que pode prever
eventos adversos, evitando a programação de tarefas críticas durante períodos de risco elevado.
No entanto, um alerta de “última hora” sobre a aproximação de uma tempestade elétrica com posterior
liberação (total ou parcial) do trecho de trabalho com segurança mitiga riscos e aumenta a produtividade

Conclusão

A redução do tempo de parada em ambientes abertos é vital para a sustentabilidade econômica das
operações. Sistemas de alerta, tanto de detecção de campo elétrico quanto meteorológicos, desempenham papéis cruciais nesse processo. Os sistemas de detecção de campo elétrico emergem como uma solução mais ágil e específica para a prevenção de eventos imediatos, enquanto os sistemas meteorológicos oferecem uma vantagem em termos de planejamento e estratégia a longo prazo.

Em síntese, a eficácia de um sistema de alerta pode ser maximizada quando ambos os métodos são
utilizados em conjunto, propiciando a segurança dos trabalhadores e a otimização da produtividade. Investir em tecnologias que minimizam o tempo de parada não apenas economiza recursos, mas também
promove um ambiente de trabalho mais seguro e eficiente, essencial para o sucesso de operações em
áreas abertas.

Por Jobson Modena em revista potencia ed 226

JOBSON MODENA ENGENHEIRO ELETRICISTA,
PROFESSOR, COORDENADOR DA COMISSÃO DE
ESTUDO DA ABNT: PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS
ATMOSFÉRICAS, REPRESENTANTE BRASILEIRO NO TC-
81 DA IEC E MEMBRO DAS COMISSÕES DE ESTUDO
DA ABNT (INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE BAIXA TENSÃO
E ATERRAMENTOS ELÉTRICOS)