Gestão Ex

Estellito Rangel Júnior

A elaboração de um Programa de Gestão de Segurança em Áreas Classificadas (PGSAC) passa pela análise de risco na execução dos serviços, e deve levar em conta as informações sobre os processos da empresa, visando elencar as medidas de segurança adequadas e os recursos necessários.

Sobre os processos, os documentos de classificação de áreas devem evidenciar as diversas situações em condições normais e anormais de operação, e serem consultados em primeiro lugar.

O PGSAC inclui várias etapas, dentre elas, destacam-se:

  • identificar os riscos;
  • relatar as ações técnicas para mitigação dos riscos;
  • consolidar o estudo de classificação de áreas, confirmando sua validade em função das características atuais da planta (esta etapa é particularmente importante, pois muitas vezes a redundância leva ao desperdício de dinheiro que poderia ser utilizado na gestão);
  • combinar soluções técnicas após amplo debate com profissionais, como engenheiro de processo, engenheiro eletricista, engenheiro de segurança e os gestores dos departamentos, para elaborar os procedimentos de segurança dos trabalhadores; e
  • definir o programa de treinamento dos empregados.

O treinamento: pilar fundamental

O programa de treinamento dos empregados deve usar uma linguagem acessível, pois, geralmente, eles não possuem conhecimentos que permitam entender fórmulas aplicáveis aos gases inflamáveis, sendo o mais importante saber o que fazer, qual equipamento usar, como ler um explosímetro e como verificar se o tipo de proteção está adequado à área, entre outros aspectos.

Um programa de treinamento objetivo permite que o pessoal se interesse pelo assunto, desperta a curiosidade, e melhora a preservação dos equipamentos, entre outras ações benéficas. Portanto, o bom treinamento não desperdiça dinheiro, devendo ser encarado como um investimento.

O gerente: peça-chave

É de primordial importância confiar a gerência do PGSAC a um especialista no tema, com experiência na área. O profissional deve saber se “movimentar” nos processos industriais, ser capaz de identificar e avaliar os riscos, e implementar medidas de proteção e técnicas que visem eliminar os riscos ou diminuir o seu gradiente, adotando também modificações nos processos ou nos sistemas de controle. É importante também que ele esteja atualizado com os produtos para esse fim e conheça sua evolução tecnológica.

O controle do acesso: vital

Outra tarefa importante do gerente do PGSAC é verificar quem entra nas áreas classificadas — em especial, de empresas terceirizadas. Não faz sentido construir sistemas caros, comprar equipamentos fixos, móveis e transportáveis adequados ao local, e não encontrar nas maletas de ferramentas dos terceirizados a adequabilidade dos equipamentos fornecidos para a realização do trabalho.

Os profissionais terceirizados também devem ter treinamento, em especial com a formação adequada ao tipo de trabalho que desenvolverão.

A sinalização: aliada incondicional

A sinalização das áreas classificadas é outra tarefa do gerente do PGSAC, que vai fixar placas conforme os documentos de classificação de áreas, e, em caso de acidente, colocará em ação o plano de emergência.

A sinalização é muito importante, devendo seguir as recomendações ISO e conter as informações de zona, grupo de gás, classe de temperatura e número do desenho de classificação de áreas (conforme já abordado na EM Ex edição 405), e deverá ser reconhecida por todos, incluindo os visitantes.

Carga e descarga: atenção redobrada

Os caminhões-tanque de inflamáveis, ao entrarem na empresa, deverão parar no estacionamento e desligar os motores, para serem submetidos a uma verificação. Nas áreas de descarga ou carga de inflamáveis, recomenda- se a presença de pessoa qualificada para monitorar a conformidade aos procedimentos. As ligações temporárias à terra dos caminhões-tanque (garras de aterramento) devem estar sempre disponíveis e em perfeitas condições. A área de carga/ descarga de inflamáveis é uma das mais envolvidas em eventos de explosão.

Conclusão

A Gestão de Segurança em Áreas Classificadas é um tema complexo e com muitas variáveis. Cada empresa tem particularidades sobre seus riscos, processos, colaboradores e procedimentos. O gerente do PGSAC deve conscientizar a alta direção que a explosão é um dano destrutivo, mas, com conhecimento e sinergia com pessoas capacitadas e responsáveis, pode-se evitar sua ocorrência.

Estellito Rangel Júnior, engenheiro eletricista, primeiro representante brasileiro de Technical Committee 31 da IEC, apresenta e discute nesta coluna temas relativos a instalações elétricas em atmosferas potencialmente explosivas, incluindo normas brasileiras e internacionais, certificação de conformidade, novos produtos e análises de casos. Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail em@arandaeditora.com.br, mencionando em “assunto” EM-Ex.