Sergio Roberto Santos
Como a instalação da proteção contra descargas atmosféricas (PDA) não é um fim em si mesma, mas tem por objetivo reduzir os riscos associados à incidência das descargas atmosféricas em uma estrutura, é necessário avaliar precisamente, numérica e qualitativamente, onde, quando, como e porque devem existir um sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) e as medidas de proteção contra surtos (MPS).
Por isso, para auxiliar a tomada de decisões em um projeto de PDA, existe a parte 2 da norma técnica ABNT NBR 5419- 2:2015 Versão Corrigida:2018 Proteção contra descargas atmosféricas Parte 2: Gerenciamento de risco, que fornece uma ferramenta eficiente para a definição:
1) Da necessidade ou não da PDA, ou seja, de um SPDA e/ou das MPSs; e
2) Caso seja necessária, das suas características.
Em termos mais precisos, segundo a norma ABNT NBR 5419:2015, o Risco (R) corresponde ao valor da perda média anual provável (de pessoas e bens) devido às descargas atmosféricas, em relação ao valor total (pessoas e bens) da estrutura a ser protegida.
As fontes (Source (S)) de danos, as causas de problema, são:
a) S1: descargas atmosféricas na estrutura;
b) S2: descargas atmosféricas perto da estrutura;
c) S3: descargas atmosféricas na linha;
d) S4: descargas atmosféricas perto da linha.
Os tipos de danos (Damage (D)), os problemas criados, são:
a) D1: ferimentos aos seres vivos por choque elétrico;
b) D2: danos físicos;
c) D3: falhas de sistemas eletroeletrônicos.
As perdas (Loss (L)), as consequências dos danos, são:
a) L1: perda de vida humana (incluindo ferimentos permanentes);
b) L2: perda de serviço ao público;
c) L3: perda de patrimônio cultural;
d) L4: perda de valores econômicos (estrutura, conteúdo, e perdas de atividades).
Como não existe risco zero, a norma ABNT NBR 5419:2015 apresenta valores de risco considerados razoáveis (Risco Tolerável (Rt)), na prática extremamente baixos, que:
a) Caso sejam atingidos sem a necessidade da PDA, esta não será necessária;
b) Serão obtidos através da PDA indicada pelo resultado do gerenciamento de risco (GR).
Como existem diferentes perdas, existirão também diferentes riscos, cada um avaliado e, se necessário, reduzido através da PDA, independentemente dos outros:
a) R1 – Risco de perda de vida humana (incluindo ferimentos permanentes) em uma estrutura, Rt = 10-5.
b) R2 – Risco de perda de serviço ao público em uma estrutura, Rt = 10-3.
c) R3 – Risco de perda de patrimônio cultural em uma estrutura, Rt = 10-4. Todos os caminhos partem do gerenciamento de risco Sergio Roberto Santos
d) R4 – Risco de perda de valor econômico em uma estrutura. Definido em comum acordo com o cliente, sendo por isso facultativo. Caso seja necessário, a norma sugere um valor de Rt = 10-3.
Em relação a esses valores, cabe ressaltar a coerência deles, já que o valor do risco tolerável para a perda de vidas humanas é muito mais baixo do que os outros, e os valores de riscos de perdas que são permanentes (R1 e R3) mais baixos do que os de riscos de perdas que são temporárias (R2 e R4), sendo que este último (R4) não necessita obrigatoriamente ser reduzido, já que as suas consequências serão assumidas pelo responsável pela edificação.
O GR é baseado em informações objetivas sobre os fatores que influenciarão o risco existente em uma edificação, tais como a Ng = densidade de descargas atmosféricas para o solo (no local ocorrem mais ou menos raios), as dimensões da edificação (a probabilidade dela interceptar uma descarga atmosférica) e a vulnerabilidade do que deve ser protegido (a estrutura, seres vivos e instalações elétricas). Tais fatores avaliados em conjunto e ponderados em relação à importância de cada um deles para a segurança responderão às duas questões formuladas anteriormente.
Desta forma, é fundamental que o projetista da PDA obtenha todas as informações necessárias para a elaboração do GR, o que nem sempre é fácil, rápido e feito corretamente. Enquanto algumas informações podem ser obtidas de forma independente, como o valor de Ng, outras dependem totalmente do cliente, comoo tempo de permanência das pessoas na edificação.
Embora seja natural que o cliente deseje que a PDA da sua edificação não seja necessária, ou tenha a menor complexidade possível (níveis III e IV de proteção), a responsabilidade pelo GR é do projetista, o que implica que esse profissional tenha a certeza de que as informações recebidas sejam verídicas e por isso devidamente documentadas. Preferencialmente, já no envio da proposta técnico-comercial do serviço, devem ser encaminhadas as per-guntas que deverão ser respondidas, a observação sobre a relação entre prazo de conclusão do GR e o tempo que o clientelevará para responder completamente o questionário e, enfaticamente, a responsabilidade dele na exatidão das respostas fornecidas.
Sendo o GR um avanço da versão de 2015 da norma ABNT NBR 5419, suas consequências devem ser respeitadas, não cabendo ao cliente, com a ajuda do projetista, tentar modificá-las com o objetivo de eliminar a necessidade da PDA, ou reduzir os custos em implementá-la. Um exemplo de tal equívoco seria omitir a existência de um ambiente com atmosfera explosiva para que a PDA necessária não seja classificada como nível I ou II.
Por último, mas muito importante, apesar da existência de programas e planilhas para elaboração do GR, a leitura completa de todas as quatro partes da norma ABNT NBR 5419:2015, ou da versão vigente na época do projeto, é fundamental para que o resultado obtido seja aquele que fornecerá a proteção realmente necessária. A elaboração do GR apenas preenchendo os dados solicitados no programa, ou planilha, pode levar a equívocos, comprometendo o projeto da PDA. Neste caso, como na aplicação da norma como um todo, o que está escrito deve ser interpretado, sejam as informações fornecidas para o GR, sejam aquelas obtidas pelo seu resultado.

em energia pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP, Sergio Roberto Santos
apresenta e analisa nesta coluna aspectos de aterramento, proteção contra descargas
atmosféricas e sobretensões transitórias, temas aos quais se dedica há mais de 20 anos.
Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail: em_ aterramento@arandaeditora.com.br, mencionando “EM-Aterramento” no assunto.