A normalização dos desvios “Ex”: Quando o errado parece certo

Desvios de montagem, inspeção, manutenção e reparos de equipamentos e instalações “Ex” em áreas classificadas passam a ser tolerados e aceitos pelas organizações, na medida em que não estejam causando acidentes catastróficos imediatos.

Em diversas inspeções que são feitas a equipamentos e instalações em áreas classificadas podem ser infelizmente encontradas diversos “desvios” relacionados com falhas de projeto, montagem, inspeção, manutenção ou reparo de equipamentos elétricos, de instrumentação, de automação, de telecomunicações e mecânicos “Ex”. Estes desvios, que comprometem o nível da segurança proporcionada pelos equipamentos “Ex”, podem fazer com que estes equipamentos, mesmo tendo sido devidamente “certificados”. se tornem fontes de ignição, no caso da presença de uma atmosfera explosiva no local da instalação. 

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Esta situação de risco pode ser atribuída, dentre outros fatores, ao fato de que, na maioria das vezes, estes desvios em equipamentos ou instalações “Ex” não originam uma explosão ou acidente catastrófico “imediato”, na medida em que podem permanecer na instalação até que haja uma perda de contenção por parte dos equipamentos de processo, com a presença de fontes de liberação de gases inflamáveis ou poeiras combustíveis, as quais formam atmosferas explosivas, com as conhecidas e graves consequências para a vida das pessoas, para o meio ambiente e para as instalações. 

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Exemplo de equipamento com invólucro metálico do tipo “à prova de explosão”, fundido em areia, encontrado com danos na junta flangeada entre o invólucro e a tampa, devido à corrosão e à necessidade de abertura com auxílio de marreta e talhadeira

Em função destes desvios aparentemente não apresentarem um “risco imediato” de explosão, a correção destas falhas em equipamentos e instalações “Ex” são eventualmente postergadas de forma indevida, fazendo com que algumas vezes tais desvios passem a ser perigosamente “aceitos”, passando indevidamente a “fazer parte da paisagem”, inclusive sob o incorreto argumento de que “este equipamento “Ex” se encontra com este tipo de desvio há muito tempo e até o presente momento não provocou nenhuma explosão”. 

Estas situações envolvendo perda de características de proteção dos equipamentos elétricos ou mecânicos “Ex” pode ser considerado diferente daquelas situações que envolvem a perda de contenção ou o vazamento de substâncias inflamáveis ou combustíveis em vasos de pressão ou equipamentos e tubulações de processo, as quais são prontamente tratadas e sanadas, em função do risco iminente de acidente catastrófico ou explosão”.

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Por outro lado, são verificados também casos práticos muito mais graves e de maior risco operacional, onde a falta de serviços adequados de manutenção preventiva ou corretiva faz com ocorram vazamentos “frequentes” através de válvulas ou de tubulações, que levam estas “fontes de liberações secundárias” atuem como “fontes de liberações primárias”. Uma medida indevida de mitigação, neste caso, seria considerar a área como Zona 1, ao invés de Zona 2, devido à presença de atmosfera explosiva em condição “normal” de operação. As normas técnicas sobre classificação de áreas especificam que a classificação de área é considerada sob condições “normais” de operação, incluindo com a aplicação dos serviços adequados de manutenção de rotina

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Nestes casos envolvendo a presença de atmosferas explosivas, pode ser verificada a ocorrência uma indevida “aceitação” da existência de desvios nos equipamentos ou instalações “Ex”, fazendo com que a correção destas falhas sejam indevidamente postergadas, com a ocorrência de uma “insensibilidade” ou de uma “falta de percepção de potencial de risco” que pode ser denominada como um fenômeno de “normalização dos desvios Ex”, com a priorização de execução de outros serviços de manutenção, que apresentem um impacto ou risco mais “imediato”, sob os pontos de vista de confiabilidade, produção ou segurança. 

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Exemplo de unidade seladora certificada. do tipo “à prova de explosão” encontrada instalada sem a colocação da respectiva massa seladora interna

A expressão “normalização dos desvios” foi inicialmente utilizada pela socióloga Diane Vaughan durante as análises das causas da explosão ocorrida com o ônibus espacial Challenger, durante seu lançamento em 28/01/1986.

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Explosão do ônibus espacial Challenger, em 28/01/1986, lançado apesar dos reconhecidos problemas existentes nas juntas de vedação dos tanques de combustíveis dos foguetes

Vaughan observou que a causa raiz do desastre do Challenger estava ligada à decisão repetida dos oficiais da NASA de lançar o ônibus espacial, apesar de uma perigosa falha de projeto relacionada aos anéis de vedação dos foguetes. Diane Vaughan afirma que esse fenômeno ocorre quando “as pessoas de uma organização se tornam tão insensíveis a uma prática irregular que esta passa a não parecer errada”. Esta “insensibilidade” surge de forma gradual, às vezes ao longo de anos, pois os desastres, catástrofes ou explosões não acontecem de forma imediata, até que outros desvios e fatores críticos estejam “alinhados”

De uma forma geral, a expressão “normalização dos desvios” é aplicada para descrever as situações em que a degradação de equipamentos ou a adoção de práticas inseguras passa a ser “aceita” pela organização por não gerar consequências catastróficas “imediatas”. Com o tempo, a situação degradada passa a ser vista como “normal” e riscos que não eram assumidos originalmente passam a se tornar indevidamente “aceitos”. 

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Exemplo de equipamento Ex “d” certificado contendo invólucro metálico do tipo “à prova de explosão”, fundido em areia, com junta flangeada e tampa fixada por parafusos, encontrado com dano (risco) na área de passagem de chama

Neste sentido, a normalização dos desvios pode ser considerada como um processo gradual, por meio do qual uma prática ou procedimento inaceitável, se torna indevidamente aceitável. Na medida em que o comportamento indevido é repetido sem resultados catastróficos, ele se torna “normalizado” pela organização. Isto significa que as pessoas de dentro da organização se tornam de tal forma “acostumadas” com um comportamento de desvio que elas não mais consideram o “desvio” como tal, apesar do fato que estes desvios não atendem as próprias regras básicas de segurança.

Quanto mais os desvios ocorrem, mais as pessoas se tornam acostumadas com eles. Para pessoas de fora da organização, as atividades com desvios são claras, no entanto, as pessoas de dentro da organização passam a não reconhecer os desvios, porque eles parecem como sendo ocorrências “normais”, passando a “fazer parte da paisagem”. 

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Exemplo de equipamento certificado com invólucro metálico Ex “d”, do tipo “à prova de explosão”, fundido em areia, com junta flangeada e tampa fixada por parafusos, encontrado com parafuso de fixação quebrado e com eixo de acionamento de chave seccionadora quebrado

Na área relacionada com equipamentos e instalações em atmosferas explosivas a expressão “normalização de desvios Ex”, pode ser aplicada para descrever as situações em que a degradação de equipamentos ou instalações “Ex” ou a adoção de práticas inseguras passam a ser “aceitas” pela organização por não gerar consequências catastróficas ou explosões de uma forma “imediata”. Com o tempo, a degradação de equipamentos ou instalações “Ex” passa a ser vista como “normal” e os riscos podem se tornar indevidamente “tolerados” ou “aceitos”. 

Nesta área relacionada com instalações elétricas em atmosferas explosivas, pode ser verificado, sob um aspecto prático, levando em consideração as inspeções de campo que são executadas em equipamentos e instalações em áreas classificadas, que a “normalização dos desvios” encontrada ocorre pela existência de “obstáculos” à utilização do processo correto, como tempo, custo, continuidade operacional, desconhecimento das normas técnicas, “pressão” dos colegas ou das empresas ou por falta de procedimentos adequados por parte da organização.

É necessário explorar o impacto desse fenômeno de “normalização dos desvios Ex” sobre as fatalidades, destruição do patrimônio e os impactos negativos ao meio ambiente, decorrentes de explosões envolvendo equipamentos e instalações em atmosferas explosivas. 

É necessário aplicar este conceito da “normalização dos desvios” trazido da indústria aeronáutica, adotando as medidas que essas e outras organizações de alto risco encontraram para evitar o processo de “normalização dos desvios Ex”, também encontrada nas indústrias do petróleo (terrestre e marítima), petroquímica, de alimentos, silos de armazenamento de grãos, e portuária, entre outras. 

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Exemplo de painel elétrico certificado contendo invólucros metálicos do tipo “à prova de explosão”, fundidos em areia, com juntas flangeadas e tampas fixadas por parafusos, encontrado com componentes em curto-circuito e inundado com água

O MITO “Ex”

Contribuindo para a “normalização dos desvios Ex”, pode ser verificada na prática a existência, em especial por parte dos usuários de equipamentos elétricos “Ex”, de um certo “mito”, com base na hipótese de que basta a aquisição de equipamentos com “certificados Inmetro”, atendendo aos requisitos legais existentes, para garantir a segurança das instalações em atmosferas explosivas. Pode ser verificado, no entanto, durante as frequentes inspeções que são realizadas em instalações em áreas classificadas que a atual certificação de equipamentos elétricos “Ex” tem se mostrado insuficiente para garantir a segurança das instalações “Ex” e das pessoas que nelas trabalham, ao longo do seu ciclo total de vida.

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Exemplo de invólucro com certificado Ex “d” com a instalação de prensa-cabo certificado Ex “d” encontrado com a instalação indevida de três cabos através do mesmos prensa-cabo

Isto pode ser verificado em função de diversos acidentes e explosões envolvendo instalações em indústrias químicas, petroquímicas e de petróleo (tanto em instalações terrestres como marítimas). Nestas instalações, mesmo com a existência e a instalação de equipamentos elétricos “Ex” com “certificação Inmetro”, em diversos casos, tais equipamentos atuaram como “fontes de ignição” da atmosfera explosiva existente no ambiente, provocando explosões e acidentes de elevada gravidade.

Sob o ponto de vista de segurança industrial, pode ser verificado que de pouco adianta que os equipamentos elétricos “Ex” tenham sido certificados por organismos de certificação, se os mesmos não são devidamente especificados, instalados, inspecionados, mantidos ou reparados, ao longo do ciclo total de vida em que permanecem instalados em áreas classificadas contendo atmosferas explosivas de gases inflamáveis ou de poeiras combustíveis.

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Exemplo de Caixa de terminais (“Junction-Box”) com certificação Ex “e” (segurança aumentada) encontrada com entrada de cabos não utilizada aberta (sem bujão “Ex”)

O que pode ser verificado é que a falta de segurança das instalações “Ex”, em diversos casos, é devida a falta de documentação de classificação de áreas, falha de especificação dos equipamentos “Ex”, falhas de projeto, falhas de montagem, falhas de inspeção, falhas de manutenção ou por falhas nos serviços de reparo ou recuperação dos equipamentos “Ex”. Tais falhas podem ser atribuídas, na maioria dos casos, à falhas humanas, decorrente de falta de qualificações, treinamentos, experiências, competências ou certificação das pessoas que executam ou que supervisionam os serviços de classificação de áreas, projeto, montagem, inspeção, manutenção e reparos dos equipamentos e instalações “Ex”, bem como na falta de competências e certificação das empresas de destes tipos de serviços para atmosferas explosivas.

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Exemplo de equipamento certificado com invólucro metálico do tipo “à prova de explosão”, fundido em areia, com junta flangeada e tampa fixada por parafuso, encontrado com a falta de parafusos de fixação da tampa

De uma forma frequente as empresas de projeto, montagem, inspeção, manutenção e reparos de equipamentos e instalações “Ex” apresentam deficiências de gestão, de procedimentos técnicos de trabalho e de qualificação do seu pessoal de execução e de supervisão, os quais não possuem as devidas experiências e conhecimentos, que os tornem competentes para desempenharem com a necessária eficiência e segurança, os serviços “Ex” para as quais são solicitados.

Resumindo, sob o ponto de vista de segurança das instalações contendo áreas classificadas, pode ser verificado, levando em consideração a grande quantidade existente de falhas nos equipamentos e instalações “Ex”, decorrentes muitas vezes da “normalização de desvios Ex”, uma vez que tais falhas não resultam em explosões catastróficas imediatas, que somente a certificação dos equipamentos elétricos ou mecânicos “Ex” não é suficiente para garantir a segurança destas instalações, e nem das pessoas que nelas trabalham.

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Exemplo de instrumento com certificação Ex “d” encontrado com entrada de cabo não utilizada plugueada com tampão plástico para proteção de rosca (sem bujão “Ex”)

Pode ser considerado então um “MITO” o erro de entendimento de que a simples instalação de equipamentos elétricos “certificados” possa garantir tal segurança em áreas classificadas. É necessária a adoção de uma nova abordagem, sob o ponto de vista do ciclo total de vida das instalações em atmosferas explosivas, levando em consideração a necessidade de certificação prioritária das empresas de serviços “Ex” e das competências pessoais dos executantes e supervisores envolvidos em serviços em áreas classificadas. 

Como evitar a normalização dos desvios “Ex”?

São apresentadas a seguir algumas ações que contribuem para evitar a ocorrência ou a continuidade da “normalização dos desvios Ex” e que devem ser seguidas para a elevação do nível de segurança dos equipamentos e instalações em áreas classificadas. 

1.  Abordagem da segurança das instalações elétricas e mecânicas em atmosferas explosivas sob o ponto de vista do “ciclo total de vida” das instalações “Ex”

Existe a necessidade de focar a segurança em áreas classificadas não somente sob o ponto de vista “restrito” dos equipamentos elétricos “Ex” certificados, de acordo com os atuais regulamentos existentes no Brasil publicados pelo Inmetro, mas também na segurança destes equipamentos ao longo de todo o tempo em que permanecem instalados em áreas classificadas, sujeitas aos riscos de explosões. 

O que pode ser verificado, na prática, é que muitos equipamentos “Ex”, mesmo sendo certificados, são indevidamente especificados, ou instalados ou mantidos ou inspecionados ou reparados, fazendo com que eles percam as características dos tipos proteção “Ex” e passem a representar uma fonte de ignição. Sob o enfoque da “normalização dos desvios Ex”, tais falhas de equipamentos ou instalações “Ex” passam a ser “aceitos” com o passar do tempo, em função de apresentarem consequências catastróficas imediatas. 

Nestas situações, quando houver a presença de uma atmosfera explosiva ao redor destes equipamentos “Ex”, eles podem provocar uma explosão, mesmo tendo sido devidamente certificados, em função de falhas introduzidas pelos usuários dos equipamentos, as quais não são tratadas com a devida prioridade. 

Fazendo-se uma analogia com uma CORRENTE, composta pode diversos ELOS. A resistência de uma corrente depende do seu elo mais fraco. De forma similar, a segurança das instalações em atmosferas explosivas pode ser entendida como sendo a composição de diversos “elos”, os quais necessitam estar fortes para EVITAR a existência de uma fonte de ignição que possa provocar uma explosão. 

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A corrente de segurança das instalações elétricas e mecânicas em atmosferas explosivas: A segurança total das instalações é limitada pelo seu “elo mais fraco”

Como exemplos dos ELOS desta corrente podem ser citadas os serviços de classificação de áreas, especificação dos equipamentos “Ex”, montagem, inspeção, manutenção, reparos, recuperação, auditorias e gestão das instalações e dos equipamentos elétricos, de instrumentação, de automação e de telecomunicações e mecânicos “Ex”.

Como pode ser entendido, o “ELO” representado pelos equipamentos “Ex”, no qual estão incluídos os fabricantes, os laboratórios de ensaios e os organismos de certificação, representa somente um dos elos da corrente de segurança das instalações “Ex”. A simples posse dos certificados de conformidade dos equipamentos “Ex” instalados não é suficiente para garantir a segurança das instalações e das pessoas que nelas trabalham, apesar de ainda ser a preocupação básica de muitos usuários, empresas de seguros ou entidades responsáveis pelas auditorias e avaliação da conformidade de instalações em áreas classificadas.

Cada um destes “elos” da “corrente de segurança Ex” somente pode ser considerado “fortes” caso os respectivos serviços forem executados por pessoas ou empresas de serviços devidamente competentes ou certificadas, evidenciando o conhecimento na aplicação dos requisitos normativos indicados nas respectivas Normas Técnicas Brasileiras das Séries ABNT NBR IEC 60079 e ABNT NBR ISO/IEC 80079. 

Somente desta forma, contando com empresas e pessoas comprovadamente competentes, os usuários podem possuir uma CONFIANÇA de que as instalações “Ex” estão seguras, no caso de um vazamento de substâncias inflamáveis ou combustíveis entrar em contato com equipamentos “Ex” elétricos, eletrônicos ou mecânicos, sem que haja o risco da ocorrência de uma explosão. 

A abordagem de certificação com base no “ciclo total de vida” das instalações “Ex” reconhece este fato de que somente a “tradicional” certificação de equipamentos elétricos e mecânicos “Ex” não é suficiente para garantir a segurança das instalações em atmosferas explosivas, das pessoas que nelas trabalham ou do meio ambiente, sendo que a “normalização dos desvios Ex” contribui para as falhas e desvios existentes em equipamentos e instalações permaneçam ocorrendo, apesar destes desvios serem reconhecidamente existentes. 

Sob o ponto de vista do ciclo total de vida das instalações elétricas, de instrumentação, de automação, de telecomunicação e mecânicas em atmosferas explosivas, os equipamentos “Ex” devem estar seguros durante todo o tempo em que permanecem instalados em áreas classificadas, ao longo de décadas, e não somente quando estes equipamentos saem das fábricas

2. Investir em qualificação, treinamento, reciclagem, competência e certificação “Ex” das pessoas

Investir nas pessoas que executam ou supervisionam serviços em atmosferas explosivas, incluindo classificação de áreas, projeto, seleção de equipamentos elétricos e mecânicos “Ex”, inspeção, manutenção, reparo, revisão e recuperação de equipamentos elétricos e mecânicos e instalações “Ex” contribui para que não ocorra uma “normalização de desvios Ex”. 

Isto se deve ao fato de que as pessoas sendo devidamente “competentes” em suas atividades e estando “cientes” dos requisitos normativos aplicáveis e com a devida “percepção do risco” de possibilidade de explosão catastrófica, atua no sentido de que os serviços sejam executados de forma adequada e que eventuais desvios ou falhas de equipamentos e instalações “Ex” sejam devidamente registrados em sistemas de manutenção. 

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De forma a evitar a “normalização de desvios Ex” deve ser requerida a devida qualificação, treinamento, experiência, conhecimento, competência e certificação de técnicos e engenheiros envolvidos com atividades em atmosferas explosivas, incluindo:

  • Usuários de equipamentos e instalações de equipamentos elétricos, eletrônicos, de instrumentação, de telecomunicações ou mecânicos “Ex”
  • Executantes, supervisores, técnicos e engenheiros envolvidos com atividades de operação, segurança industrial, projeto, montagem, inspeção, manutenção, reparos e auditorias em áreas classificadas
  • Empresas de serviços de classificação de áreas, projeto, montagem, inspeção e manutenção de instalações elétricas e mecânicas “Ex”
  • Empresas de serviços de reparo, revisão e recuperação de equipamentos elétricos, de instrumentação, de automação, de telecomunicações ou mecânicos “Ex”
  • Provedores de treinamentos “Ex”, empresas de consultoria sobre equipamentos e instalações “Ex”
  • Organismos de Certificação de Competências Pessoais “Ex”, de Serviços “Ex” e de Equipamentos “Ex”
  • Fabricantes de equipamentos elétricos, eletrônicos, de instrumentação, de automação ou de telecomunicações “Ex”
  • Fabricantes de equipamentos mecânicos “Ex”
  • Auditores de equipamentos e instalações elétricas e mecânicas “Ex”
  • Laboratórios de ensaios de equipamentos elétricos e mecânicos “Ex”
  • Representantes técnicos e comerciais de equipamentos elétricos e mecânicos “Ex”
  • Empresas de seguros de instalações industriais contendo áreas classificadas de gases inflamáveis ou poeiras combustíveis
  • Estudantes de cursos técnicos ou de nível superior nas áreas de eletricidade, eletrônica, instrumentação, automação, telecomunicações, mecânica, processo, química ou segurança industrial. 

Para estas pessoas “Ex” e para as respectivas empresas de serviços “Ex” é necessário que seja requerida a devida qualificação, experiências, conhecimentos, competências e certificação, incluindo para os serviços ou atividades de classificação de áreas, projeto, seleção de equipamentos elétricos e mecânicos “Ex”, inspeção, manutenção, reparo, revisão e recuperação de equipamentos elétricos e mecânicos e instalações “Ex” e auditorias de instalações em áreas classificadas contendo gases inflamáveis ou poeiras combustíveis. 

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Na medida em que estas pessoas e empresas de serviços “Ex” tenham o devido conhecimento dos requisitos normativos das Normas aplicáveis da Série ABNT NBR IEC 60079, existe um menor risco de que haja uma “normalização de desvios Ex”, ou que estes desvios passem a ser “aceitos” com o passar do tempo, em função de não causarem uma catástrofe imediata. 

3. Investir em equipamentos “Ex” que possuam tecnologias e características construtivas com requisitos mais simples de montagem, inspeção, manutenção e reparos

A complexidade de requisitos de montagem, inspeção, manutenção e reparo de equipamentos “Ex” é reconhecidamente um fator agravante de risco que pode levar a uma “normalização de desvios Ex”. Um exemplo deste tipo de situação é aquele que ocorre equipamentos do tipo “à prova de explosão” que necessita de dezenas de parafusos para fixação de sua tampa, nos quais a tecnologia não provê uma solução adequada para as graves falhas de montagem e manutenção que são frequentemente verificadas na prática, neste tipo de equipamento “Ex”. 

Uma das características “conceituais” nestes tipos de invólucros metálicos do tipo “à prova de explosão” consiste na existência de grandes volumes internos vazios entre os dispositivos instalados em seu interior. Estes grandes “volumes vazios internos” podem permitir o acúmulo de grandes quantidades de atmosferas explosivas no interior do invólucro Ex “d”, provenientes, por exemplo, da região externa onde o equipamento se encontra instalado. Esta grande quantidade de atmosfera explosiva dá origem, por sua vez, a uma grande explosão no interior do invólucro, quando entra em contato com as partes centelhantes dos componentes que estão instalados no seu interior. Esta grande explosão, com geração de grande energia, necessita ser “contida” por meio de invólucros que possuam espessas paredes, caso contrário o invólucro seria destruído pela explosão interna.

Além disto existe a necessidade de instalação de uma grande quantidade de parafusos para a fixação da tampa, caso contrário esta seria “arrancada” do invólucro ou permitiria a existência de interstícios que provocariam a propagação da explosão interna para o exterior do invólucro, colocando toda a instalação em risco de explosão. Acrescente-se a isto o fato de que, por questões de segurança e de caso mais rigoroso de dimensionamento, os invólucros são ensaiados “vazios” nos laboratórios, fazendo com que o volume interno seja o maior possível, levando à necessidade de maiores espessuras de parede e de maior quantidade de parafusos de fixação das tampas. 

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Exemplo de caixa de terminais (“Junction-Box”) com invólucro metálico do tipo “à prova de explosão”, fundido em areia, com junta flangeada, contendo 38 parafusos para a fixação da tampa

De fato, são verificados nas inspeções realizadas de campo, diversos problemas relacionados com a instalação, manutenção, inspeção e reparo de equipamentos “Ex” com invólucros metálicos do tipo “à prova de explosão”, como ingresso de água pelas juntas metálicas, corrosão das faces das juntas, parafusos de aço espanando as roscas de alumínio dos invólucros, falta de parafusos de fixação das tampas, falta de instalação de unidades seladoras, falta de selagem das unidades seladoras, selagem incorreta das unidades seladoras, falta de instalação de niples certificados, falta de instalação de união macho/fêmea certificadas, conexões roscadas com menos de cinco fios de rosca, superfícies flangeadas das juntas metálicas com a existência de danos, riscos ou trincas nas áreas de passagem de chama e colocação indevida de silicone nas juntas flangeadas na tentativa de evitar o ingresso de água. 

Estas frequentes falhas de instalação e manutenção, que com o tempo passam a ser “aceitas” por não ocasionarem consequências catastróficas imediatas, podem ser consideradas como parte do fenômeno da “normalização de desvios Ex”, comprometendo a segurança originalmente prevista para estes equipamentos “à prova de explosão” e colocando a instalação e as pessoas em risco, em caso de existência de uma atmosfera explosiva. 

Deve ser ressaltado que todos os tipos de proteção “Ex” podem ser considerados “seguros”, desde que os equipamentos sejam devidamente instaladosmantidos e reparados ao longo do seu ciclo total de vida. No entanto, com base em dados práticos obtidos em frequentes inspeções efetuadas em campo, pode ser observada a ocorrência de diversos e frequentes destes problemas relacionados com invólucros metálicos do tipo “à prova de explosão”, devido à existência de grande quantidade de parafusos, roscas e acessórios Ex “d” requeridos, incluindo os respectivos complexos procedimentos de montagem, inspeção, manutenção e reparo, o que requer um maior nível de competência do pessoal envolvido, o que infelizmente nem sempre acontece na prática, em nível de execução e supervisão nas especialidades de elétrica, instrumentação e telecomunicações. 

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Exemplo de caixa de terminais (“Junction-Box”) com invólucro metálico do tipo “à prova de explosão”, fundido em areia, com junta flangeada, contendo 48 parafusos para a fixação da tampa

Deve ser ressaltado que são disponíveis no mercado nacional, desde a década de 1990, alternativas tecnológicas para se evitar estes tipos de problemas, como por exemplo, a utilização de componentes centelhantes à prova de explosão encapsulados em plástico, com invólucros externos e terminais com tipo de proteção segurança aumentada (Ex “de”). De acordo com os equipamentos disponíveis no mercado, podem ser especificados equipamentos com tipos de proteção como segurança aumentada (Ex “e”), encapsulamento em resina (Ex “m”), segurança intrínseca (Ex “i”) ou proteção contra ignição de poeiras combustíveis por invólucro (Ex “t”), que apresentam requisitos de montagem, inspeção, manutenção e recuperação mais simples em relação aos invólucros metálicos do tipo “à prova de explosão” com tampas flangeadas ou roscadas. 

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Exemplo de caixas de terminais (“Junction-Boxes”) com invólucros plásticos com tipo de proteção Ex “e” (segurança aumentada) contendo 8 parafusos para a fixação da tampa de cada invólucro, sem necessidade de unidade seladora Ex “d” ou de grande quantidade de parafusos

Nos eventuais casos quando não existam alternativas técnicas para a especificação de equipamentos com invólucros metálicos do tipo “à prova de explosão”, podem ser alternativamente especificados invólucros Ex “d” com tampas roscadas e com entradas indiretas. Neste tipo de produto, disponível no mercado europeu desde a década de 1970, os cabos externos ao equipamento (cabos instalados pelos usuários) são conectados a caixas de terminais do tipo segurança aumenta (Ex “e”), não necessitando a abertura dos invólucros metálicos à prova de explosão, reduzindo o risco de erros nos serviços de montagem, inspeção ou manutenção. Além disto, o invólucro Ex “d” com tampa roscada dispensa a necessidade de diversos parafusos para a fixação de tampas como ocorre com os invólucros com flanges e tampas fixadas por parafusos. 

4.   Implantação de sistema de gestão de segurança e de ativos de equipamentos e instalações “Ex”

Pode ser feito um comparativo com os requisitos aplicados aos equipamentos de processo, como os vasos de pressão, que são especificados na Norma Regulamentadora NR-13 – Caldeiras e vasos de pressão. Para atendimento da NR-13 e dos respectivos prazos de parada periódica para inspeção e manutenção, muitas empresas optam em possuir um SPIE (Sistema Próprio de Inspeção de Equipamentos), que passam periodicamente por processo de avaliação e de auditorias externas. A existência de um SPIE faz com que o acompanhamento contínuo das caldeiras e dos vasos de pressão representados pelos equipamentos de processo permita um maior intervalo entre as paradas programadas para as inspeções e manutenção.

De forma similar, na área de instalações elétricas em atmosferas explosivas existe a necessidade que haja um tipo de SPIE “Ex”, representado também por um sistema de cadastro, acompanhamento, inspeções periódicas e manutenção dos equipamentos “Ex”, de forma a assegurar que estes equipamentos estejam devidamente instalados, mantidos ou reparados, ao longo do seu ciclo total de vida.

Com base neste sistema de gestão de ativos “Ex” é possível haver uma confiança de que os equipamentos “Ex” não representam uma fonte de ignição e que não haverá uma explosão em uma eventualidade de liberação inesperada de gases inflamáveis ou de poeiras combustíveis devido à eventuais perdas de contenção por parte dos equipamentos de processo e vasos de pressão.

Se por um lado o SPIE assegura a integridade física das caldeiras, vasos de pressão e dos equipamentos de processo (como vasos, tanques, fornos, caldeiras, reatores e torres de destilação) evitando a liberação de gases inflamáveis ou poeiras combustíveis para o meio ambiente, o SPIE “Ex” pode assegurar a integridade dos equipamentos e instalações “Ex”, de forma a não representarem fontes de ignição capazes de causar uma explosão, caso haja falha de algum equipamento de processo, com perda de sua capacidade de contenção e a consequente formação de uma atmosfera explosiva.

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Um sistema de gestão “Ex” para os equipamentos e instalações em atmosferas explosivas, inclui: documentação de classificação de áreas, do controle do inventário dos equipamentos elétricos, mecânicos, de instrumentação, de telecomunicações e mecânicos existentes, tanto fixos como móveis, dos certificados de conformidade dos equipamentos “Ex” instalados, documentação de projeto de instalações “Ex” (ABNT NBR IEC 60079-14), programa de inspeções iniciais e periódicas “Ex” (ABNT NBR IEC 60079-17), relatórios de manutenção e de inspeções (ABNT NBR IEC 60079-17), relatórios de reparos e recuperação (ABNT NBR IEC 60079-19), controle de treinamento e de reciclagem sobre “atmosferas explosivas” dos profissionais envolvidos com serviços em áreas classificadas, controle de certificação de executantes e supervisores (próprios e contratados) de acordo com as Unidades de Competências Pessoais “Ex” aplicáveis a cada atividade “Ex” e programa de auditorias internas para a verificação da continuidade e atualização da aplicação dos requisitos das Normas da Série ABNT NBR IEC 60079 – Atmosferas explosivas.

Com a implantação da sistemática especificada na Norma ABNT NBR IEC 60079-17 (Inspeção e manutenção de instalações “Ex”), de inspeções periódicas de equipamentos e instalações em atmosferas explosivas, e posterirormente da criação dos devidos registros das falhas encontradas em ordens de manutenção do sistema de gestão utilizado na Empresa, pode ser assegurado que as falhas existentes em especificação de equipamentos ou em instalações em atmosferas explosivas sejam devidamente identificadas, priorizadas e corrigidas nos prazos especificados, evitando que ocorra esta “normalização de desvios Ex”.

Conclusões e considerações sobre a normalização dos desvios “Ex”

Pode ser verificado que muitos acidentes e explosões ocorrem porque não foram devidamente analisados os potenciais de consequências catastróficas decorrentes de erros humanos nas atividades relacionadas com serviços realizados em atmosferas explosivas. 

De forma a contribuir para se evitar a ocorrência de novos acidentes e explosões em atmosferas explosivas, levando em consideração as ocorrências encontradas de normalização de desvios “Ex”, é importante que sejam revisados e atualizados os critérios de projeto e de especificação técnica de equipamentos “Ex”, incorporando as atuais tecnologias disponíveis no mercado, que proporcionam procedimentos de montagem, inspeção, manutenção e reparos mais simplificados

Pode ser verificado no mercado, como uma boa prática aplicada por diversas empresas da indústria do petróleo no Brasil, a inclusão, em seus requisitos contratuais, a necessidade de alocação, por parte das empresas contratadas, de profissionais com certificação de conformidade de competências pessoais “Ex”, emitida por Organismo de Certificação de Pessoas. Estes requisitos contratuais têm, dentre outros, o objetivo de obter a devida confiança de que os serviços “Ex” serão feitos de forma correta, acordo com os requisitos normativos aplicáveis, especificados nas Normas Técnicas Brasileiras adotadas da Série ABNT NBR IEC 60079 – Atmosferas explosivas.

É fundamental que os equipamentos elétricos, de instrumentação, de automação, de telecomunicações e mecânicos “Ex” sejam especificados de forma a minimizar as consequências de erros humanos, bem como implantar procedimentos de inspeções iniciais detalhadas e de inspeções periódicas apuradas, registrando os desvios “Ex” encontrados, cujas correções devem ser devidamente priorizadas, de acordo com a gravidade de cada um dos desvios encontrados. 

Devem ser também analisadas as consequências sobre os “quase acidentes” ou “desvios Ex” que tornam os equipamentos “Ex” certificados como prováveis fontes de ignição, incluindo medidas mitigadoras, como treinamentos periódicos e revalidações de certificação de competências pessoais “Ex” de executantes e de supervisores. Além disto, é necessário também que exista implantado um adequado sistema de gestão de segurança dos equipamentos e instalações “Ex”, que acompanhe e monitores os requisitos técnicos, de gestão e de competências pessoais requeridas. 

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A normalização dos desvios “Ex”: Perda continuada de barreiras de proteção ocasionadas por falhas humanas pode levar a um acidente em caso de perdas de contenção de gases inflamáveis ou poeiras combustíveis em áreas classificadas

Neste sentido, deve ser percebido, entendido e reconhecido que as pessoas cometem erros, reforçando a importância de especificar e instalar equipamentos elétricos e mecânicos “Ex” que considerem a possibilidade de ocorrência destes erros, por meio de especificação e instalação de equipamentos que possuam procedimentos mais simplificados os serviços de campo de montagem, inspeção, manutenção, reparo, revisão, recuperação. 

Contribui também de forma significativa para segurança das instalações em áreas classificadas a implantação de um sistema de gestão de ativos “Ex”, com foco nos requisitos especificados nas normas técnicas brasileiras adotadas da Série ABNT NBR IEC 60079, relacionadas com os serviços de projeto, montagem, inspeção, manutenção e reparos “Ex”.

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O ciclo total de vida das instalações “Ex”: Sistema de gestão de ativos em áreas classificadas elaborado com base nos requisitos especificados nas Normas Técnicas Brasileiras adotadas ABNT NBR IEC 60079 (Atmosferas explosivas) – Parte 10-1, Parte 10-2, Parte 14, Parte 17 e Parte 19

Neste sistema de gestão, todos os itens “Ex” devem ser devidamente cadastrados e periodicamente inspecionados, de forma a permitir, de forma gerencial, o acompanhamento da evolução das inspeções, a fim de assegurar que não seja excedido o prazo máximo de três anos para inspeção de cada um dos itens “Ex” existentes em cada instalação.

Bibliografia relacionada à solução de problemas envolvendo a normalização dos desvios “Ex”

  1. Norma Brasileira ABNT NBR IEC 60079-14: Atmosferas explosivas – Parte 14: Projeto, seleção e montagem de instalações elétricas
  2. Norma Brasileira ABNT NBR IEC 60079-17: Atmosferas explosivas – Parte 17: Inspeção e manutenção de instalações elétricas
  3. Norma Brasileira ABNT NBR IEC 60079-19: Atmosferas explosivas – Parte 19: Reparo, revisão e recuperação de equipamentos
  4. Norma Brasileira ABNT IEC TS 60079-32-1: Atmosferas explosivas – Parte 32-1: Riscos eletrostáticos – Orientações
  5. Norma Brasileira ABNT NBR IEC 61892-7: Instalações elétricas marítimas – Parte 7: Áreas classificadas
  6. Norma Regulamentadora NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade (Secretaria do Trabalho)
  7. Norma Regulamentadora NR 37 – Segurança e saúde em plataformas de petróleo (Secretaria do Trabalho)
  8. Livro “O ciclo total de vida das instalações em atmosferas explosivas”, Paco Editorial
  9. The normalization of deviance, Diane Vaughan
  10. Norma Brasileira ABNT NBR ISO 10015: Gestão da qualidade – Diretrizes para gestão da competência e desenvolvimento de pessoas
  11. Norma Internacional IEC TS 60079-44: Atmosferas explosivas – Parte 44: Competências pessoais (em processo de elaboração no TC 31 da IEC)
  12. Norma Internacional ISO 45001: Sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional – Requisitos com orientação e uso (Norma ISO traduzida pela ABNT, disponível em português)

Roberval Bulgarelli