A capacitação dos empregados é uma questão chave tanto para obtenção de melhores índices de produtividade, quanto para segurança das instalações em uma empresa. Quando uma companhia processa substâncias inflamáveis, a segurança assume importância ainda maior, pois uma explosão pode simplesmente encerrar suas atividades. Desde a emissão da edição 2004 da NR10, as empresas estão cada vez mais preocupadas com o treinamento na área de instalações elétricas em atmosferas explosivas, pois não basta contratar um treinamento, mas é necessário ter certeza que ele seja de qualidade.
Um treinamento sem qualidade pode inclusive demandar grandes gastos desnecessários. Recentemente, por exemplo, com a edição 2004 da NR10, surgiram diversos cursos de NR10. Alguns deles, apregoavam a necessidade de determinar o circuito equivalente de Thévenin da rede elétrica e até mesmo que os estudos de harmônicos deveriam ser incluídos no prontuário de instalação. Foi uma época propicia ao surgimento de cursos de baixa qualidade, uma vez que com o treinamento compulsório, as empresas apenas se preocupavam em ”ter” o treinamento pelo ”menor preço”, sem conhecer seus detalhes.
A disciplina de economia ensina que nos momentos de mudanças bruscas no mercado é necessário maior rigor nos desembolsos. Desta forma, deveriam ter sido estabelecidos desde o primeiro momento critérios para a contratação de treinamentos de NR10. A análise do currículo dos instrutores, uma vez que apenas poderiam ser considerados aptos aqueles que demonstrassem experiência na edição anterior a NR10, poderia ter poupado milhares de reais na seleção de treinamentos. Um currículo contendo apenas ” experiência em projetos elétricos de grandes prédios” não é suficiente para credenciar o profissional a ministrar curso de NR10. Porém, com a contratação de treinamentos a cargo do departamento de compras, é difícil esperar uma análise que abranja algo além do simplório menor preço.
Cursos Ex
Preocupada com a qualidade do treinamento Ex até então contratado, uma empresa petroquímica solicitou uma avaliação, incluindo, além da análise do material impresso, entrevistas com alguns treinados. Uma das deficiências encontradas foi na disciplina segurança intrínseca definida como ” circuitos que limitavam a energia a ponto de torna-la insuficiente para provocar a ignição da atmosfera explosiva. Um dos treinados relatou que ao preguntar como o circuito fazia isso, recebeu do instrutor a seguinte resposta: ”são patentes industriais, de elevada tecnologia”.
Com base nesse e em outros casos, conclui-se que o ”instrutor” era na verdade um ”papagaio de power point”. Ou seja, uma pessoa que apenas decorou o que consta na tela de projeção e não tem domínio das causas e consequências dos assuntos.
Atualmente, com as facilidades da Internet, podem ser obtidas apresentações prontas sobre diversos assuntos, mas vale ressaltar que há muito material desatualizado o que o download de um power point não forma instrutores.
Uma vez que a ”apostila” já está pronta, os ” papagaios de power point ”, não vai gastar várias horas em pesquisas e organizações do material, podendo cobrar bem baratinho pelo curso, porém eles não esclarecem a contratante que vão apenas ler o que está escrito nas transparências.
Para formar um instrutor são necessários vários anos, pois além, do conhecimento do tema, ele tem de saber preparar o material dentro de uma sequência didática, ressaltar os tópicos chaves, estimular a participação da classe a garantir a aprendizado eficaz da turma. Desta forma, o Power Point é uma ferramenta de apoio, não o treinamento em si. Consequentemente , um papagaio de ”power point” não é um instrutor.
Como resultado da avaliação realizada, a empresa citada contratou um novo plano de treinamento, desta vez com um profissional de ampla experiência, atualizando com as últimas edições das normas e capaz de elaborar um curso sob medida para suas necessidades.
Estelito Rangel Junior – Engenheiro Eletricista e primeiro representante brasileiro no Technical Committee 31 da IEC.