Por Daniel Figueiredo
A eficiência energética, a princípio, está presente no nosso dia a dia. Em termos gerais, está ligada à otimização do uso de recursos, ou seja, tornar eficiente o consumo, em especial de energia elétrica, de derivados de petróleo, gás natural e água, com vistas à economia. Portanto, desde o controle de um banho quente à elaboração de um plano integrado de monitoramento em uma multinacional, tudo passa pela eficiência energética.
No decorrer do nosso dia, temos infinitas possibilidades de praticar a eficiência energética, com uma pequena mudança de comportamento. A simples opção por um chuveiro a gás no lugar de um elétrico pode gerar economia de energia, assim como o apagar das luzes quando se deixa um cômodo.
Em maiores proporções, as empresas também podem adotar medidas para redução do consumo, como dar preferência a plantas nativas nos jardins internos, para redução de água, e utilizar pressurizadores nas torneiras. Com foco em energia, a pintura de telhados na cor branca reflete a luz solar e impacta diretamente na redução da necessidade de ar condicionado, assim como o uso de sistemas de controle de iluminação e ar condicionado setorizados e a própria manutenção preventiva dos equipamentos.
Um estudo realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), em 2010, aponta que o desperdício energético no Brasil chega a R$ 15 bilhões/ano. Já números do Banco Mundial (BIRD), indicam que se aprendêssemos a usar efetivamente nosso potencial de eficiência energética, economizaríamos mais de R$ 4 bilhões/ano, apenas racionalizando o uso de nossos recursos.
Porém, embora sejam inúmeras as vantagens da eficiência energética, como redução de custos, de emissão de poluentes e de recursos naturais, no Brasil, ela ainda é pouco praticada. Os esforços, ainda tímidos, surgem, em grande parte, para atender a uma demanda de empresas multinacionais que já têm a preocupação com a sustentabilidade e só se instalam em prédios com tecnologias “verdes”.
A solução para o estímulo à eficiência energética pode estar nas mãos do próprio governo que, por meio de mais fiscalização e planejamento, pode atrair o comportamento positivo das pessoas e das empresas. Um bom plano de incentivos à indústria, aliado a uma campanha de mídia intensa, pode promover os benefícios obtidos com a implementação da eficiência energética.
Paralelamente, o empresariado pode se mobilizar no sentido de dar cada vez mais preferência para a compra de itens produzidos por empresas que já empreguem medidas “verdes” no processo produtivo, gerando aumento de competitividade.
Em julho deste ano, foi criada a norma ISO 50001, para orientar organizações na elaboração de processos de gestão do uso da energia, para que sejam capazes de avaliar seus próprios desempenhos energéticos e reduzir custos em um procedimento de melhoria contínua.
A área industrial, inicialmente, se concentra uma das maiores possibilidades de redução. Há possibilidades de reaproveitamento de subprodutos para geração de energia e mesmo a produção de energia a partir de biomassa, que consiste na queima de produtos de origem orgânica para geração de energia.
No entanto, apesar de a indústria responder por mais de 40% do consumo total de energia no Brasil, o setor não é prioridade nos programas governamentais de eficiência energética, que focam os setores público, residencial e comercial, responsáveis por apenas 16% do consumo total brasileiro. Paralelamente, cerca de 80% das oportunidades de economia de energia no setor industrial provêm de processos térmicos, enquanto as ações de eficiência energética do governo focam-se mais no consumo da energia elétrica.
No Brasil, esse tipo de projeto começa a ganhar força. No Rio Grande do Sul, já operamos uma planta que produz energia elétrica a partir da queima da casca de arroz, um insumo até então sem utilidade e rejeitado pelos agricultores locais. O projeto trouxe uma nova renda para as famílias, uma nova utilidade ao que antes era considerado lixo e um enorme benefício ao meio ambiente.
Mas ainda temos muito o que fazer no caminho da sustentabilidade. Inspirarmo-nos em projetos que dão bons resultados pode ser um início. Nas cidades de Campinas, Guarulhos, São Carlos e Araraquara, em São Paulo, e em Vila Velha, no Espírito Santo, por exemplo, foram implantados projetos que oferecem benefícios fiscais para proprietários de imóveis que adotem princípios de sustentabilidade (desconto de até 20% do valor atual do IPTU, por um período de até cinco anos). Um incentivo ainda tímido, mas com grande potencial de crescimento e replicação para várias outras cidades. A boa intenção é fundamental, mas a realidade é que o comportamento só muda quando há uma relação de benefício.