Causas de Explosões

Estellito Rangel Júnior

Uma das perguntas mais frequentes nos treinamentos sobre instalações em ambientes com atmosferas potencialmente explosivas é quais ocorrências de explosões em plantas químicas, petroquímicas, gás e petróleo cujas causas apontadas no relatório oficial foram má manutenção, instalação incorreta ou projeto inadequado dos equipamentos elétricos.

Com base nas análises realizadas por diversas entidades especializadas, majoritariamente no exterior, e na participação em congressos técnicos, destacamos a seguir alguns eventos que apontaram como causas prováveis as relacionadas aos sistemas elétricos:

1. Explosão na plataforma P-36, Bacia de Campos (Brasil, 2001):

A análise do acidente, ocorrido menos de um ano da entrada em operação da plataforma e que resultou em 11 mortes, identificou várias não conformidades relativas procedimentos e à classificação da área. Uma das hipóteses é de que a fonte de ignição tenha sido um equipamento elétrico não-Ex.

2. Explosão na refinaria de Pasadena, Texas (EUA, 2005):

A explosão matou 15 trabalhadores e feriu mais de 170. A investigação identificou falhas de manutenção e revelou que um isolamento inadequado em um circuito elétrico permitiu a ignição de vapores inflamáveis.

3. Explosão na refinaria de Anacortes, Washington (EUA, 2010):

Este evento, na unidade de processamento de nafta na refinaria da Tesoro, resultou em sete mortes. A investigação apontou falhas na integridade dos equipamentos, incluindo problemas elétricos, como contribuintes para o acidente.

4. Explosão na fábrica de fertilizantes em West, Texas (EUA, 2013):

A investigação do acidente, que matou 15 pessoas e feriu 200, apontou para possíveis falhas nos sistemas elétricos como contribuintes para a explosão.

5. Explosão na refinaria de Torrance, Califórnia (EUA, 2015):

Na explosão ocorrida na refinaria da Exxon-Mobil, a investigação indicou que a falha em um equipamento chamado “desalter” foi causada por problemas elétricos, incluindo um transformador defeituoso.

6. Explosão no FPSO Cidade de São Mateus, Bacia do Espírito Santo (Brasil, 2015):

A análise do acidente, que resultou em 9 mortos e 26 feridos, identificou como hipótese e mais provável a fonte de ignição ter sido eletricidade estática.

7. Explosão na fábrica da TPC Group em Port Neches (EUA, 2019):

Na explosão em unidade de produtos químicos, onde 3 pessoas foram feridas e 60 mil tiveram que deixar suas casas, a investigação inicial indicou que uma falha em um sistema elétrico poderia ter sido um dos fatores contribuintes.

A partir desses relatos, nota-se que é totalmente equivocado supor que a classificação de áreas seja facilmente elaborada por meio de cópia das figuras típicas dos documentos denominados “práticas recomendadas”. Somente a correta avaliação de engenharia dos processos presentes na unidade industrial pode fornecer um estudo válido, o qual é imprescindível na correta especificação dos equipamentos elétricos destinados ao uso nas unidades que processam produtos inflamáveis. Além da obrigatoriedade de certificação de conformidade dos equipamentos, a capacitação dos trabalhadores é fundamental para garantir correta instalação e manutenção desses equipamentos.

O histórico das explosões tem apontado para a relevância das instalações elétricas na segurança das unidades industriais, e reforça a importância da correta especificação dos equipamentos elétricos projetados para evitar a ignição de atmosferas explosivas em situações normais e anormais de operação.

O Inmetro estabeleceu que no Brasil a certificação de equipamentos para áreas classificadas necessita ser realizada por um organismo credenciado, independentemente de já ostentar uma certificação estrangeira, como IECEx ou Atex.

A integridade dos sistemas elétricos nas indústrias com áreas classificadas é parte crucial da gestão de segurança, e deve contar com inspeções e auditorias periódicas independentes e conduzidas por especialistas, haja vista que são instalações extremamente perigosas.

Autor:

Estellito Rangel Júnior, engenheiro eletricista, primeiro representante brasileiro de Technical Committee 31 da IEC, apresenta e discute nesta coluna temas relativos a instalações elétricas em atmosferas potencialmente explosivas, incluindo normas brasileiras e internacionais, certificação de conformidade, novos produtos e análises de casos. Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail em@arandaeditora.com.br, mencionando em “assunto” EM-Ex.