Áreas industriais com elevados riscos de acidentes envolvendo atmosferas explosivas são fonte de constante preocupação, pois trata-se sobretudo de perdas de vidas, além da destruição das instalações, assim como grandes impactos ambientais.
Uma atmosfera é considerada explosiva quando há mistura com o ar, em condições atmosféricas, de substâncias inflamáveis sob a forma de gases, vapores, névoas ou poeiras, onde após ignição, a combustão se alastre por toda mistura não queimada.
Na edição anterior, esta coluna tratou de procedimentos de segurança, especificação técnica, utilização e operação de containers do tipo IBC (Intermediate Bunk Container) em áreas classificadas contendo gases inflamáveis, de forma a evitar a indevida geração ou acúmulo de cargas eletrostáticas que sejam capazes de representar uma indevida fonte de ignição de uma atmosfera explosiva que possa estar presente no local da instalação.
Os containers do tipo FIBC e IBC são muito utilizados para transporte de líquidos ou poeiras, geralmente com a utilização de empilhadeiras.
São apresentadas a seguir recomendações para a especificação técnica para compra e para utilização de containers do tipo IBC (Intermediate Bunk Container) em áreas classificadas contendo gases inflamáveis, de forma a evitar o risco de ocorrência de fontes de ignição de atmosferas explosivas decorrentes do indevido acúmulo de cargas eletrostáticas.
• Atender às recomendações de fabricação, instalação e utilização apresentados na Norma ABNT IEC TS 60079-32-1 (Atmosferas explosivas – Parte 32-1: Riscos eletrostáticos – Orientações)
• Sempre conectar cabos temporários de aterramento, conectado preferencialmente a sistema de detecção de aterramento e intertravamento, durante as operações de enchimento e de esvaziamento de IBC em áreas classificadas
•Especificar e utilizar IBC METÁLICO para transporte de produtos muito inflamáveis ou com baixo PF (Ponto de Fulgor)
Para assegurar que nenhuma das paredes internas ou externas do contêiner do tipo IBC, nem os líquidos no seu interior, possam ser indevidamente carregados eletrostaticamente a um nível de risco, capaz de representar uma fonte de ignição de uma atmosfera explosiva que possa estar presente no local, é recomendado que as seguintes precauções sejam adotadas:
• É recomendado que todas as partes condutivas e dissipativas estejam adequadamente equipotencializadas e aterradas equipotencializadas e aterradas
• É recomendado que todos os objetos condutivos nas imediações de qualquer container do tipo IBC (isto é, menos do que aproximadamente 1 m de distância) sejam devidamente aterrados durante a operação de carregamento e descarregamento
• É recomendado que o container do tipo IBC seja completamente circundado por uma tela malha, trança ou revestimento condutivo, exceto para pequenas áreas limitadas consideradas no projeto (isto é, para as quais as consequências de uma cobertura incompleta tiverem sido consideradas no projeto de processo e não representarem risco). Se o invólucro for formado por uma tela metálica, convém que a área da grade aberta (mesh) da tela não seja maior que 10 000 mm2
• É recomendado que quaisquer áreas limitadas não envolvidas por tela, malha, trança ou revestimento condutivo (por exemplo, o dispositivo de carregamento ou áreas ao seu redor) sejam dissipativas ou aterradas, ou protegidas de outras maneiras, de forma que não possam ocorrer riscos de ignição para o Grupo IIA em uma área classificada do tipo Zona 1 e ao redor de uma Zona 0 existente no interior do contêiner (por exemplo, limitando a área que possa ser eletrostaticamente carregável ou por tratamento superficial)
• Não é recomendado que o container do tipo IBC seja utilizado quando uma Zona 0 estiver presente no lado externo do contêiner do tipo IBC
• A efetividade e a durabilidade do tratamento superficial (por exemplo, por extrapolação, por revestimento homogêneo com camadas dissipativas etc.) têm que ser demonstradas experimentalmente sob as condições mais desfavoráveis de carregamento eletrostático, umidade e contaminação
• É recomendado que a tela, malha, trança ou revestimento condutivo possuam um contato adequado com o receptáculo interno em todas as faces do container, exceto para pequenas áreas com dimensões especiais consideradas no projeto.
• Para uma tela com malhas abertas excedendo 3 000 mm2, é recomendado que não seja excedida uma distância máxima de 20 mm entre a tela e o receptáculo interno nas áreas com dimensões especiais consideradas no projeto, por exemplo, a área do bocal da válvula de saída. Somente em bordas e cantos do container, pode ser tolerada uma distância máxima de até 40 mm. Para tela, malha, trança, revestimento condutivo sólidos ou uma tela com malha menor que 3 000 mm2, é permitida uma distância máxima de 40 mm, em áreas, bordas ou cantos considerados no projeto
• É recomendado que exista um meio condutivo com resistência máxima de 1 MΩ entre o líquido e o terra, por exemplo, pela utilização de uma tubulação de carregamento condutiva aterrada que se estenda até um local próximo do fundo do container ou uma válvula de fundo condutiva aterrada ou uma placa condutiva com área suficientemente grande no fundo do tanque.
• É recomendado que mesmo pequenas quantidades de líquido remanescente, por exemplo, volume de 1 L, estejam permanentemente em contato com o ponto aterrado no fundo, de forma a evitar que o líquido se torne um material condutor isolado e eletrostaticamente carregado
• É recomendado que o contêiner do tipo IBC seja equipado com uma PLACA DE ADVERTÊNCIA na cor amarela, informando a sua utilização segura
• É recomendado que, ANTES do reabastecimento, o contêiner seja verificado com relação ao atendimento dos requisitos de aterramento e equipotencialização
• Não é recomendado que o container do tipo IBC seja abastecido com outros tipos de líquidos diferentes daqueles para os quais o IBC foi especificado e avaliado
• É recomendado que os líquidos isolantes (por exemplo, o tolueno) sejam adicionados por meio de um tubo condutivo aterrado imerso no líquido. É recomendado que este tubo submerso esteja próximo do fundo do container, de forma a evitar a ocorrência de descargas ramificadas a partir do líquido isolante
• É recomendado que a vazão de carregamento seja limitada a 400 L/min e a velocidade de carregamento não exceda 2 m/s
• Se forem utilizados líquidos altamente carregáveis eletrostaticamente, é esperada uma grande geração eletrostática, de forma que medidas adicionais sejam necessárias, por exemplo, a INERTIZAÇÃO
• Medidas adicionais são também necessárias em casos de alta velocidade de agitação, por exemplo, pela utilização de produtos surfactantes (Produtos surfactantes são substâncias capazes de reduzir a tensão superficial dos produtos aos quais são adicionados. Exemplos de surfactantes de água são os detergentes. Quando misturados na água os detergentes diminuem a tensão superficial e ajudam a água a penetrar em pequenos espaços, auxiliando a limpeza)
• Não é recomendado que objetos condutivos isolados (como por exemplo,
ferramentas, parafusos e grampos) sejam armazenados, acoplados, ou mesmo colocados temporariamente em qualquer container do tipo de IBC, durante a operação de carregamento e descarregamento
• A natureza irregular de alguns materiais de containers do tipo IBC pode impedir que objetos condutivos colocados no IBC entrem em contato com os elementos condutivos no tecido do IBC
• É recomendado que precauções sejam adotadas para evitar a contaminação de qualquer container do tipo IBC com substâncias como por exemplo, água, ferrugem, óleo, graxa, as quais podem criar um risco de ignição ou prejudicar a dissipação da carga eletrostática que seja gerada durante o processo de enchimento ou esvaziamento
Requisitos básicos para a seleção e operação de IBC em áreas classificadas, de forma a mitigar os riscos de fonte de ignição devido à geração e acúmulo indevido de eletricidade estática:
• Especificar e selecionar o IBC com base em avaliação sob o ponto de vista de riscos “Ex”, fabricado de material condutivo ou antiestático, de acordo com Zona e Grupo do local da utilização
• O IBC deve ser aterrado ANTES do início das operações de transferência de produto
• A equipotencialização deve ser feita sempre ANTES da abertura de recipientes com substâncias combustíveis
• Ao carregar com tubo de imersão, não abrir a válvula até que o tubo tenha sido inserido até o fundo do IBC. O tubo de imersão deve ser feito de material condutivo ou dissipativo e devem estar aterrados
• A resistência para o sistema de terra não deve exceder 10 MΩ
•Realizar periodicamente medições do aterramento com instrumentos adequados para a classificação de áreas do local da utilização. A resistência para a terra, sob o ponto de vista da equipotencialidade para permitir a “dissipação” de cargas eletrostáticas não deve exceder o valor de 1,0 MΩ
• As medições de aterramento devem ser feitas com frequência adequada, sendo os resultados devidamente documentado e registrado no prontuário das instalações, para acompanhamento dos valores “históricos” medidos ao longo do tempo, por meio de curvas de “tendências”
Por: Roberval Bulgarelli é consultor sobre equipamentos e instalações em atmosferas explosivas. Organizador do Livro “O ciclo total de vida dos equipamentos e instalações em atmosferas explosivas”, membro de Comissões de Estudo do Subcomitê SCB 003:031 (Atmosferas explosivas) da ABNT/CB-003 (Eletricidade) e de Grupos de Trabalho do TC 31 (Equipamentos para atmosferas explosivas) e do IECEx (Sistema internacional de certificação “Ex”) da IEC.
O Setor Elétrico / Janeiro-Fevereiro de 2023 Edição 192.