Marcação digital Ex

O objetivo da marcação é fornecer os dados dos equipamentos, componentes e dispositivos elétricos e eletrônicos, visando orientar os projetistas, instaladores e usuários sobre os requisitos da alimentação elétrica e os valores relativos ao desempenho do produto. No caso da marcação Ex, há necessidade de informações adicionais, como, por exemplo, o grupo, classe de temperatura e o número do certificado de conformidade.

Com a publicação da NBR IEC 63365 em 30/5/23, traduzida da IEC 63365:2022, uma nova forma de marcação, digital, com o uso de tecnologias como o QR Code, a RFID (Radio-Frequency Identi­cation), a NFC (Near Field Communication) e até mesmo o firmware dos produtos, passou a ser padronizada.

Todas essas tecnologias já são conhecidas e utilizadas pela sociedade civil, como o QR Code (adotado nos tempos de covid-19 pelos restaurantes para mostrar o cardápio), que utiliza a internet; o RFID (desenvolvida nos anos 40 e empregada em etiquetas especiais (tags), nas embalagens para controle de estoque e nos crachás para controle de acesso a áreas restritas), que utiliza ondas de rádio; e o NFC (utilizado no pagamento de contas por aproximação do cartão de crédito ou do celular), que faz a troca de informações na faixa de 13,56 MHz, entre dispositivos compatíveis que estejam próximos.

A tecnologia RFID é a mais antiga, utilizada há décadas nas grandes lojas de roupas, como um sistema de prevenção de furtos. Uma etiqueta especial, com microchip e antena, é colocada nas roupas e retirada pelo caixa no ato do pagamento. Desta forma, se alguma roupa passar pela porta com a etiqueta RFID (tag), sensores ativam o alarme sonoro e visual.

Aplicações na indústria

No setor industrial, a área de transportes é a que mais tem destaque no uso de leitores RFID, como, por exemplo, em pedágios. Os leitores RFID captam quantas vezes o veículo passou pelos sensores, graças às “tags” afi­xadas nos carros, e enviam a fatura ao ­final do mês.

A indústria química também os utiliza na identifi­cação dos produtos acondicionados ao longo do processo produtivo. Apesar de ser possível a utilização de códigos de barras nesta função, o RFID pode fornecer mais informações, bem como as etiquetas suportam bem as mudanças de temperatura, poeira e impactos mecânicos.

As antenas RFID são essenciais para que o sistema funcione corretamente, pois fazem a comunicação entre as etiquetas RFID e os dispositivos leitores, devendo ser instaladas em local estratégico que possibilite boa cobertura do sinal de radiofrequência.

Nas áreas classificadas

Há alguns anos os fabricantes de equipamentos industriais, incluindo os Ex, vêm limitando o envio de instruções impressas, preferindo disponibilizá-las em seus sites.

No Brasil, na época da Portaria Inmetro 176/2000, já havia pedidos para isentar os prensa-cabos da marcação, alegando-se a impossibilidade de colocar “muito texto na superfície reduzida dos mesmos”. Na verdade, o problema não era a falta de espaço, mas a necessidade de aquisição das máquinas capazes de fazer a impressão então já disponível nos prensa-cabos importados.

Agora, com a NBR IEC 63365 volta à cena o argumento da “di­ficuldade dos fabricantes de equipamentos Ex de atenderem os mercados globais, pois as marcações têm se tornado tão extensas que se tornou impossível incluir todas as informações requeridas em uma marcação convencional, devido aos diferentes requisitos do mercado americano, do europeu, do Reino Unido, do Inmetro e outros”.

Este argumento denota o interesse dos fabricantes em integrar informações em uma única etiqueta, mas os usuários precisam apenas conhecer os dados requeridos em seu país, de modo que basta aos fabricantes fornecerem etiquetas adequadas a cada mercado.

 Mesmo sendo uma tecnologia inovadora e com benefícios para diversos ­para diversos fins, existem alguns problemas que envolvem a troca de informações por radiofrequência, como:

  • Alto custo quando comparado ao sistema de código de barras; e
  • Interferência do campo magnético local nos produtos metálicos, restringindo o funcionamento dos leitores. Para esta aplicação, há etiquetas especiais, com custo maior.

Nas áreas classi­ficadas, há preocupações adicionais que encarecerão o sistema, pois, apesar de haver etiquetas passivas, que podem ser consideradas como dispositivos “simples”, de acordo com a NBR IEC 60079-14, dependendo da aplicação, poderão ser necessárias etiquetas ativas, com baterias inclusas, as quais deverão ser avaliadas quanto à certifi­cação para áreas classifi­cadas.

Além disso, o leitor de “tag” RFID é um aparelho essencial para o funcionamento correto da tecnologia. Ele “lê” as etiquetas e coleta as informações disponíveis. Por ser um dispositivo eletrônico, ao ser empregado em áreas classifi­cadas, precisará ser avaliado quanto à energia acumulada em seus circuitos, e receber o respectivo certificado de conformidade, que indicará para qual grupo de gás poderá ser usado com segurança.

Essas considerações estão incluídas na NBR IEC 63365 em 5.2.6, e em seu Anexo A.5, de modo que devem merecer a atenção dos usuários, em especial nos impactos na contratação dos serviços de inspeção, que serão de maior custo se houver necessidade do emprego de leitores certi­ficados Ex.

Como os requisitos de marcação Ex estão na NBR IEC 60079-0, e ela está relacionada nos processos de certifi­cação brasileira, pode haver a intenção de incluir um anexo, citando a recém-publicada NBR IEC 63365, possibilitando aos fabricantes a facilidade de utilizar a nova modalidade de imediato. Porém, conforme disposto nas diretrizes ISO/IEC, uma “errata” fi­ca limitada à correção de equívoco em algum item da norma publicada, não sendo permitido incluir novos anexos como “errata”.

Como os MT das normas IEC são majoritariamente compostos por representantes dos fabricantes, os usuários precisam avaliar cuidadosamente os impactos decorrentes de tradução direta em suas normas nacionais.

Autor:

Estellito Rangel Júnior, engenheiro eletricista, primeiro representante brasileiro de Technical Committee 31 da IEC, apresenta e discute nesta coluna temas relativos a instalações elétricas em atmosferas potencialmente explosivas, incluindo normas brasileiras e internacionais, certificação de conformidade, novos produtos e análises de casos. Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail em@arandaeditora.com.br, mencionando em “assunto” EM-Ex.