É de suma importância para a segurança das empresas que processam pós combustíveis (como as pertencentes aos setores químicos, farmacêutico, alimentício, madeireiro e outros) conhecer as propriedades de seus produtos e as características de seus processos, visando controlar os riscos de incêndio e es explosões – como ja foi ressaltado nesta seção das edições da revista Eletricidade Moderna Nº521 e 522.
Há ainda considerável desinformação dos riscos envolvidos, que podem resultar em eventos de graves consequências. Dentre as situações constatadas em auditorias de conformidades, são abordados aqui alguns equívocos que comprometem a segurança das empresas, incluindo suas instalações e as pessoas que nelas trabalham. Veja a seguir.
“Os dados dos pós combustíveis, são necessários ao projeto de equipamentos e instalações, podem ser obtidos facilmente nas tabelas publicadas nas normas , ou mesmo em sites na internet”
Este é um dos “mitos equivocados”. Não ter dados reais é tão perigoso quanto não sabê-los. Pequenas variações no tamanho da partícula e sua composição podem resultar em consideráveis diferenças nas explosividade do pó. E, além de necessários estabelecer a base do projeto de proteção contra explosão, os dados corretos permitirão avaliar a viabilidade da inertização ou de outras medidas de proteção.
“Uma amostra do pó combustível basta. Se as plantas industriais forem “similares”, a amostra de uma delas vale para todas”.
Outro perigoso “mito”, muito comum entre gerentes que desconhecem os riscos de se adotar dados incorretos, como ilustrado anteriormente. Pela economia obtida na realização de apenas um ensaio, coloca-se em risco a segurança da planta, uma vez que a tecnologia adotada para proteção dos equipamentos poderá subdimensionada em relação á energia liberada e eventual explosão.
“Estudos de classificação de áreas para pós combustíveis são simples de fazer, pois tudo é zona 21”
A classificação de áreas deve apontar não apenas as regiões com possibilidade de formação de atmosferas explosivas em condições normais de operação, mas também aquelas decorrentes de condições anormais de operações. Isto exige que o profissional responsável pelo estudo demonstre no memorial descritivo como foram definidas as áreas classificadas. Se “tudo for zona 21”, há um forte indício que o responsável pelo estudo não possui experiência necessária, e que provavelmente sua capacitação tenha sido obtida pela forma autodidata, a qual, como sabemos, tem se revelado insuficiente na produção de estudos confiáveis para a segurança das plantas industriais.
“Ventiladores são proibidos nas plantas com pós combustíveis, pois os dispersam, aumentando as extensões das áreas classificadas”.
Dependendo da geometria do ambiente e da especificação dos ventiladores, a ventilação mecânica pode ser eficaz para evitar o acúmulo de pó combustível, especialmente nas partes altas da planta. Ao entrar em operação pela primeira vez, sim, poderá haver um aumento dos pós em suspensão exigindo a elaboração de um procedimento de segurança; porem, um, adequado projeto de engenharia ensejará que o fluxo de ar seja controlado de forma a promover uma deposição mais rápida dos pós, facilitando a limpeza do ambiente.
“Nosso Pó não é combustível, porque possui um baixo Kst“
Outra confusão muito comum. O Kst define que o pó é combustível. Um valor “baixo” significa que a explosão será menos severa (nas condições de ensaio) em relação a outro pó com maior Kst, mas ambos explodem. Também há que considerar o que as normas recomendam para o caso de ensaios que apontam um Kst menor que 45 Bar.m/s.
Vê-lo pelo exposto que a desinformação ainda é grande, o que exige a implantação de programas amplos d treinamento para toda a força de trabalho. Acidentes relatados recentemente na mídia e em sites especializados como o Cabum! ( http://www.cabum-ex.net.br ) devem despertar a atenção dos responsáveis pelas plantas industriais que processam pós combustíveis sobre o potencial de destruição de uma explosão.
Uma avaliação feita por profissional experiente deve apontar as medidas de segurança mais adequadas a cada tipo de planta, bem como orientar na redução do risco, visando assegurar a saúde e a segurança dos trabalhadores. As soluções aplicáveis tanto podem se técnicas como organizacionais, e deverão ser combinadas ou complementadas, quando necessário, com medidas que contenham a propagação de possíveis explosões
Por: Estellito Rangel Júnior, engenheiro eletricista, primeiro representante brasileiro de Technical Committee 31 da IEC, apesenta e discute nesta coluna temas relativos a instalações elétricas em atmosferas potencialmente explosivas, incluindo normas brasileiras e internacionais, certificação de conformidade, novos produtos e análises de casos. Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail em@arandaeditora.com.br, mencionada em “assunto” EM-ex.
Revista Eletricidade Moderna Nº568 |Novembro-Dezembro|2022.