Motores

Quando instalados em áreas classificadas, os motores elétricos precisam atender diretrizes de segurança, que incluem não só a responsabilidade do fabricante no desenvolvimento do projeto, como do usuário, desde a instalação até a operação e manutenção do motor ao longo de sua vida útil.

A seguir, são listados pontos que merecem atenção especial, tanto dos fabricantes quanto dos usuários, para a utilização de motores elétricos em áreas classificadas.

Enrolamentos dos motores de alta tensão

Para suportar um eventual aumento de torque devido a curto-circuito, e para minimizar a vibração na extremidade do enrolamento, é empregado um contraventamento reforçado. As bobinas são projetadas com um isolamento mais resistente a picos de tensão, especialmente nos casos de acionamento por variadores de velocidade, onde são esperadas frequências consideráveis de comutação.

Os efeitos corona e descargas parciais são minimizados com o uso de fitas especiais nas ranhuras, que suavizam os gradientes de tensão.

Maiores distâncias de isolamento em relação à terra são adotadas para melhores resultados nos ensaios de rigidez dielétrica e para garantir a segurança do pessoal.

Caso sejam instalados detectores de temperatura embutidos nas ranhuras, eles também precisarão ser aprovados nos ensaios dielétricos aplicáveis.

Acessórios

Dispositivos anti-condensação são usualmente empregados nos motores operando em ambientes agressivos ou úmidos, e seu espaçamento deve ser determinado para a melhor eficácia de sua atuação. Eles também precisarão passar pelo ensaio de resistência de isolamento.

Caixas de ligação

As caixas de ligação podem incluir para-raios, capacitores de surto, transformadores de corrente e outros dispositivos. As distâncias de isolamento e escoamento precisam atender aos requisitos normativos, tanto para as condições fase-fase quanto fase-terra.

A carcaça

Os cuidados na construção do invólucro do motor, normalmente feito de ferro fundido, compreendem não só os esforços para “segurar” todas as peças rotativas, mas também os impactos devido à operação em baixa temperatura ambiente e à ressonância na velocidade nominal, buscando – se, neste último caso, o nível sonoro mais baixo.

Rolamentos

A operação segura do motor e uma longa vida útil dependem da seleção correta dos rolamentos, especialmente no caso de motores verticais. O atendimento ao plano de lubrificação é essencial para que sejam obtidas longas campanhas de operação.

Relés de proteção

Os relés são instalados para proteger o motor e minimizar os danos. Existe uma grande gama de itens a proteger, como contra rotor bloqueado, sobrecarga, diferencial, sobre temperatura, bem como para evitar um número de partidas por hora além do projetado. Há casos especiais, como no acionamento de certas válvulas motorizadas utilizadas em parada de emergência de processos, onde o motor não pode ter proteção contra sobrecarga, exigindo do usuário uma avaliação de risco quanto às possíveis elevações de temperatura.

Inspeções

A operação segura de motores em áreas classificadas exige um plano periódico de inspeção, para verificar, por exemplo, se a lubrificação está adequada, se o eixo pode ser girado manualmente, se o aquecedor anti-condensação está funcional, se os filtros de ar estão limpos, se a vibração está dentro da faixa aceitável, se os dados de placa estão sendo respeitados, dentre outros parâmetros.

Resumindo: o fabricante deve considerar os itens de segurança ao projetar um motor para áreas classificadas, porém cabe ressaltar que nem todos eles estão previstos nas normas. O usuário deve cuidar que a especificação técnica do motor cubra as situações ambientais e de operação que serão encontradas na planta industrial específica, pois as normas apenas expressam os requisitos mínimos a serem seguidos.

A responsabilidade do usuário não termina na especificação de compra, mas segue por toda a vida útil do motor, pois cabe a ele fazer a instalação correta e prover a manutenção adequada para garantir a segurança do motor e, do processo industrial e das pessoas, especialmente no caso de áreas classificadas.

Por: Estellito Rangel Júnior, engenheiro eletricista, primeiro representante brasileiro de Technical Committee 31 da IEC, apresenta e discute nesta coluna temas relativos a instalações elétricas em atmosferas potencialmente explosivas, incluindo normas brasileiras e internacionais, certificação de conformidade, novos produtos e análises de casos. Os leitores podem apresentar dúvidas e sugestões ao especialista pelo e-mail em @arandaeditora.com.br, mencionando em “assunto” EM-Ex.

Revista: Eletricidade moderna Nº567 Setembro – Outubro.