Por Hilton Moreno
Esta é a terceira e última parte sobre algumas reflexões com relação à qualidade das instalações elétricas em locais que atendem e recebem crianças pequenas, instalações que atendem e recebem pessoas idosas e/ou com dificuldade de locomoção e instalações que alimentam equipamentos vitais para manutenção da vida das pessoas enfermas. Nas duas edições anteriores foram abordados quesitos de segurança e acessibilidade.
Lembre-se que, no primeiro grupo, estão creches, berçários, escolas maternais e outros locais que atendem a crianças que engatinham, estão começando a andar ou já andam bem e que, acima de tudo, como qualquer criança, são extremamente curiosas e ativas. No segundo grupo, estão os asilos, as clínicas de repouso e os demais locais que recebem e cuidam daqueles que já atingiram a maturidade e que podem ter limitações de mobilidade em função da idade avançada. E, no terceiro grupo, estão os estabelecimentos assistenciais de saúde em geral, mas, no âmbito deste artigo, vamos tratar dos chamados home-cares, ou seja, casas, sobrados e apartamentos que, por necessidade, têm parte de sua área transformada em quartos de hospitais que muitas vezes lembram um CTI (centro de terapia intensiva).
Qualidade
Esta palavra tem uma abrangência muito grande, mas, para efeito deste artigo, vamos considerar a qualidade do projeto elétrico, dos materiais utilizados, da mão de obra de instalação e manutenção e da qualidade de energia disponibilizada nos locais.
Em todos os casos, a elaboração de um projeto elétrico cuidadoso, competente, responsável e que, se possível, vá além das prescrições mínimas das normas e regulamentos técnicos é fundamental. No entanto, é razoável aceitar que esse projeto deva ser mais cuidadoso ainda quando se tratam de locais tais como creches, berçários, escolas maternais, asilos, clínicas de saúde e home-cares. É esse “ir mais além” que chamamos de qualidade de um projeto. Considerar os aspectos de segurança e acessibilidade mencionados nos artigos anteriores em adição às prescrições mínimas das normas faz toda a diferença no futuro funcionamento adequado das instalações elétricas daqueles locais. Lembrar que, por exemplo, para uma criança muito pequena, um DR de 30 mA pode não ser exatamente um dispositivo de alta sensibilidade e que, neste caso, seria mais aconselhável utilizar um DR de 6 mA ou 10 mA, indo assim além do mínimo da norma, pode ser a diferença entre um projeto de qualidade e um bom projeto.
Um projeto de qualidade necessariamente leva à especificação de materiais de qualidade. Assim como no caso do projeto, um material de qualidade não é somente aquele que atende ao mínimo do que as normas técnicas prescrevem (o chamado “border line”). Material de qualidade é aquele que vai além dos mínimos e tem desempenho, eficiência e vida útil superiores. Mais uma vez o discurso se repete e, de uma forma geral, mas nos locais indicados neste artigo em particular, a qualidade dos materiais é fundamental para garantir a segurança de todos os usuários e o funcionamento confiável das instalações.
De nada serve um projeto de qualidade e o uso de materiais de qualidade se a mão de obra que vai montar a instalação é tecnicamente pobre, sem conhecimento adequado, ou, em suma, sem qualidade. Inúmeros são os casos em que materiais bem projetados, selecionados e especificados, com boa qualidade, são danificados ou mal instalados por conta de mão de obra desqualificada, colocando tudo a perder em termos de segurança e confiabilidade do sistema.
Neste quesito, tão importante quanto a mão de obra que vai instalar é a mão de obra que vai manter as instalações elétricas funcionando em boas condições. Muitas instalações são primorosas quando recém-entregues, mas tornam-se inseguras e ineficazes com o passar de pouco tempo.
Tudo está aparentemente certo: projeto, materiais e mão de obra de qualidade. No entanto, falta um ingrediente importante para se obter uma instalação elétrica de qualidade: a qualidade da energia disponível no local (note que, em apenas um parágrafo, foram empregadas três vezes a palavra “qualidade” – tirando esta quarta vez!).
Os mais variados problemas de qualidade de energia (afundamentos de tensão, quedas ou faltas de tensão, tensões e correntes harmônicas, etc.) são responsáveis pelo mau funcionamento ou, às vezes, pela interrupção de funcionamento dos equipamentos eletroeletrônicos e eletromédicos.
Nos locais que são objeto destes artigos, casos extremos de mau funcionamento ou parada de equipamentos podem levar as pessoas à morte! Imagine a situação de um paciente gravemente enfermo que tem sua vida totalmente dependente de uma máquina ligada à tomada em um homecare. Qualquer funcionamento inadequado ou parada da máquina pode colocar o paciente em risco de morte. A instalação de estabilizadores de tensão, nobreaks, dispositivos protetores de surto, condutores adequadamente dimensionados, circuito, terminais exclusivos, condutores de proteção independentes, eventuais filtros de harmônicas, dentre outras soluções possíveis para problemas de qualidade de energia são indispensáveis para garantir a continuidade e a confiabilidade da instalação elétrica nos locais tratados nesta série de artigos.
Apesar de “filosóficos e conceituais”, esperamos que estes três artigos possam contribuir de alguma forma para que se encarem de uma maneira diferente alguns tipos de instalações elétricas, saindo da posição de fazer tudo no “piloto automático”, apenas cumprindo as normas, numa receita de bolo já bem conhecida, que geralmente não considera as necessidades específicas de muitas pessoas que vão ser as usuárias destas obras.